Uma das primeiras postagens do ano, foi o álbum 'Avante' de Siba, e o texto foi escrito pelo próprio autor – fazendo dele o primeiro a escrever neste blog – por isso, deixo-me com uma nobre justificativa para repostar conteúdo.
O disco do Siba foi o
melhor do ano – não pelo fato de ter sido inovador ou
revolucionário, pois foi exatamente o contrário – mas pelo fato
de ter sido extremamente popular. O álbum é tradicional, no sentido
de que ele continua utilizando dos elementos que permearam toda sua
discografia, desde o 'Mestre Ambrósio' às parcerias com Barachinha
e com a 'Fuloresta do Samba. Siba transformou o som característico
da zona da mata pernambucana em música pop, com arranjos enxutos e
coesos, enaltecendo as rimas e histórias narradas pelas letras.
'Preparando o salto'
abre o disco com propriedade de uma bela canção pop, entoada com
maestria pelo cantor pernambucano. “Não vejo nada que não tenha
desabado, nem mesmo entendo como estou de pé”, narra Siba, como um
renascimento. Siba apresenta uma analogia à lenda de Ícaro e sua
utilização das guitarras, no lugar de rabecas e violas.
A banda que acompanhou
a gravação contou com uma formação simples, com Siba na voz,
guitarra e viola, Leo Gervázio na tuba, Samuel Fraga na bateria e
Antônio Loureiro no vibrafone e teclados, e ainda a excelência da
produção de Fernando Catatau. A segunda faixa, 'Brisa' enaltece o
vento, quase como uma versão moderna de Dorival Caymmi, com Siba
cantando, “a brisa por ser carinhosa é quem mais tem castigado”.
“Ronca o céu, treme
a terra, abala o norte. Se esparrama uma sombra sobre o sul. São o
sonho e a noite irmãos da morte. Só sobrou nós dois num manto
azul”, cita Siba, criando uma mitologia própria em 'Ariana'. Em
'Cantando ciranda na beira do mar', Siba conduz o ouvinte através de
imagens oníricas, numa melodia épica e deslumbrante.
'A bagaceira' já havia
sido gravada com a 'Fuloresta...' – assim como 'Çanoa furada' –
mas ambas parecem ter recebido versão definitiva valorizando a letra
ritimada e bem humorada, que relata uma tarde de carnaval e uma
pescaria mal-sucedida, respectivamente. 'Mute' é um pequeno
interlúdio, que funciona como introdução à 'Um verso preso', com
participação de Lirinha.
Siba voltou-se para a
guitarra, após ter abandonado o instrumento na adolescência, para
dedicar-se à rabeca e viola. Segundo ele, foi preciso reaprender a
mecânica da eletricidade, mas Siba criou um estilo próprio ao
dedilhar do instrumento – reconhecível nos primeiros acordes, o
que é muito raro no caso dos guitarristas. O peso nas melodias
apareceu naturalmente, como bem exemplificado em 'Avante', pontuada
por um riff potente, com um duelo entre o vibrafone e a guitarra.
Siba apresenta uma
poética volta ao passado em 'Qasida', “Não adianta tirar de onde
não tem, nem tentar encaixar onde não cabe. Sem saber alguém
tenta, e quando sabe, já não dá nem um passo mais além. Pois de
trás para frente nada vem, o que foi já não é e nem será e da
frente pra trás, ninguém irá desfazer o que fez, certo ou errado”,
ressalta Siba. A canção tem a guitarra especialíssima de Catatau.
'Bravura e brilho' é
uma canção de ninar feita para o filho. O disco todo é permeado
pelo sentimento da paternidade do autor, que dedica a canção e todo
o álbum para o filho – que também aparece na capa junto com o
pai, num momento de ternura e afeto.
'Avante' é uma peça
de beleza única, que transporta todo o cancioneiro de Siba,
relacionado com as canções da zona da mata, para o universo pop de
canções de rádio.
2012 Avante
2. Brisa
3. Ariana
4. Cantando ciranda na
beira do mar
5. A bagaceira
6. A canoa furada
7. Mute
8. Um verso preso
9. Avante
10. Qasida
11. Bravura e brilho