O novo álbum do cantor Gustavo Galo tem rock, baladas e muito desbunde em composições inspiradas.
Gustavo Galo faz parte
da banda 'Trupe Chá de Boldo', mas também segue em carreira solo e
acaba de lançar o segundo disco.
Considerando o percurso
da carreira solo – Galo lançou o álbum 'Asa' em 2014 e segue
agora em direção ao segundo disco com 'Sol'. Mas sua trajetória
não representa o voo de Ícaro, pois buscou a inspiração na poesia
'A Extraordinária Aventura de Vladmir Maiakóvsky no Verão na
Datcha”, onde o poeta conversa com o Astro-Rei.
'Até de manhã' abre o
disco na forma de um rock sujo e repentino. Outro súbito rock ocorre
já quase no final do petardo com 'Pra pegar', que trás a bateria
precisa de Pedro Gongon e ainda a guitarra de Luiz Chagas e os synths
de Quincas Moreira e vocais de Júlia Rocha – canção composta por
Luís Capucho.
Galo brinca com a
delicadeza das palavras em 'Tenra terra' e cria um clima suave para
esta canção escrita em parceria com a cantora Iara Rennó e o
guitarrista Gustavo Cabelo. Uma canção com o baixo aveludado de
Gustavo Ruiz e piano rhodes de Tomás Oliveira, que também tocam em
'Pra te tocar', ainda com Sergio Sayeg nas guitarras e vocais de
Juliana Perdigão e Pedro Morais – composta em parceria com Marcelo
Segretto, da 'Filarmônica de Pasárgada'.
'Um barato' foi
composta em parceria com a poetisa Júlia Rocha – utilizando
livremente o poema dela, 'Carinho é barato', como ponto de partida.
A canção tem arranjos vocais de Lucinha Turnbull – que para quem
não sabe foi parceira da Rita Lee nas 'Cilibrinas do Éden'. 'Que
mal tem?' também tem os vocais de Lucinha e foi composta a partir da
afirmação do artista plástico Julio Plaza, “a arte é um mal que
faz bem”.
Em 'Ah, se não fosse o
amor', Galo assume a influência do ethio-jazz de Mulatu Astatke e
entrega uma pérola composta por Lira e Dan Maia, também com Luiz
Chagas nas guitarras. Em 'Grafitesão', Galo solta a libido e assume
o fetiche da pixação de amor pelos muros da cidade – de
preferência em frente da vista do próprio afeto.
As duas últimas
canções do álbum são singelamente acústicas; 'Salto no escuro'
de Jorge Mautner e Nelson Jacobina; e 'Um Sol' do próprio Galo, que
revela que “assim que a noite disse sim, o sol nasceu dentro de
mim”.
A banda cuiabana
'Macaco Bong' volta com novo álbum inspirado e recheado de riffs
potentes e poderosos.
A banda 'Macaco Bong' era formada por Bruno Kayapy na guitarra, Ynaiã
Benthroldo na bateria e Ney Hugo no baixo lançou o disco de estréia
em 2008, o seminal 'Artista é Igual Pedreiro', que foi o primeiro
álbum virtual da Trama Musical – mais ou menos a Natura hoje em
dia...
Depois de dois anos de
muito incenso pela espetacular estréia, a banda lançou novo
material com o EP 'Verdão e Verdinho, que prometia muito mas deixava
um anseio por mais peso pois a banda flertava mais com o jazz e
criava climas e paisagens melancólicas que não seguiam o som do
álbum anterior.
Então veio o 'This is
Rolê' onde o power trio trazia a participação de Tulio Mourão,
com Gabriel Murilo no baixo. Parecia, na época, um bom sucessor para
o álbum de estréia – já que em 2012, ninguém aguentava mais
esperar pelo segundo disco da banda.
Nisso a banda acabou...
E ficou o Kayapy na sua guitarra como um guerreiro solitário em uma
banda de um homem só.
Pois em 2015 o 'Macaco Bong' ressurgiu com um disco urgente, sujo e experimental,
que trazia em sua essência a poderosa máquina de riffs certeiros de
Kayapy. Nessa época eram seus parceiros Daniel Fumega na bateria e
Julio Cavalcante no baixo.
Hoje, já com outro
integrante no baixo, o Daniel Hortides, a banda apresenta seu mais
novo trabalho, o auto-intitulado 'Macaco Bong'. Neste novo álbum, o
'Macaco Bong' apresenta um disco de clássicos pós-modernos.
O disco abre com
hipnotizante 'Lurdz' e depois segue com a balada 'Bejim da Nega Flor'
para culminar com a épica 'Chocobong'. 'Baião de Stoner' faz o que
se propõe ao colocar o baião no rock ou vice e versa e logo na
sequência 'Saci Craquente', que faz menção ao maracatu e ao frevo.
O disco encerra com a máquina de riffs acelerada de 'Carne Loca',
'Distraídos venceremos' e 'Macaco'.
O que na época era uma
afirmação no título do álbum de estréia, com 'Artista é Igual
Pedreiro', virou uma premonição de que “artista precisa ser igual
pedreiro”. Então o 'Macaco Bong' segue com a pedrada certeira de
sempre.
O cantor, compositor e
guitarrista Dillo Daraújo apresenta seu disco mais pop, recheado de
diversas referências culturais.
Dillo Daraújo fez um
álbum rico e singelo que fala de novelas mas também faz uma crítica
voraz às redes sociais. Pra quem não tinha perfil no twitter, Dillo
mostra-se ainda mais mordaz que no disco anterior. Mas também
sobraram crônicas sobre a vida a dois, sobre estilos musicais e até
relações profissionais.
Nesse disco, Dillo vira
o personagem que intitula o álbum, mas que surgiu antes lá no
'Jacaretaguá' de 2012. Onde esse mesmo personagem mergulhou nos
temas propostos lá naquele período e que se repetem evoluídos
neste novo petardo.
Se em 2012 você ouvia
'Plano marmita', agora em 2016 temos 'Home sweet rua', que evolui nas
rimas ferozes de um robô efêmero lá da Guariroba. 'Sessão do
descarrego' continua em 'Jesus Krishna' com a pegada de hit garagem
com a “calça arrochadinha” e “topete de galinha” etc e tal.
Agora em 2016, Dillo
chega maduro e experiente e já com filha adolescente, pra quem ele
dedicou o sucesso de novela 'Mamãe mamãe', baseada em uma discussão
escolar sobre o futuro que é projetado a todas meninas de 13 anos em
diante. Com letra feminista Dillo abre o microfone para o próprio
feminismo interior.
O tempero latino
sensual sempre esteve presente na obra de Dillo e neste disco não
poderia ser diferente como a suave 'Dois a dois', a acelerada 'O som
do sal' e a poética 'Amor de ficar' onde o cantor cunha a expressão
de “rima de aspirina pro refrão” com sua verve poética cada vez
mais em evidência.
'Pena que se acaba'
trouxe a concretização de uma parceria bem sucedida com o Roberto
Frejat na guitarra, que até foi relatada em tom profético na canção
'Fica para o próximo disco', onde Dillo e o o guitarrista angolano
Nuno Mindelis apresentam diversas desilusões e desencontros
profissionais.
Em 'Só que não',
Dillo apresenta uma crítica social poderosa em duplo-sentido. Ao
usar a sigla SQN do mêmê 'Só que não' nas redes sociais e
intitular a canção que critica as redes sociais de 'Só que não';
ele cria um paradoxo interessante. Uma curiosidade, SQN também é um
endereço em Brasília... [os comentários estão abertos para outras
teorias interessantes].
'Tempo tido' abre o
disco com uma delicadeza que não tem precedente em qualquer outra
parte do álbum. Uma obra que reserva ao ouvinte o prazer de conhecer
diversas facetas do personagem Dillo, que vai desde o rock ao bolero
em questão de minutos... Vai lá então!
Banda com Juçara
Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França lança terceiro álbum e
desponta no cenário internacional.
O 'Metá Metá' é pura
força do candomblé! Uma noite no terreiro! As performances ao vivo
são de força e energia. Neste terceiro álbum a banda captura em
estúdio a potência sonora das apoteóticas apresentações.
Dessa vez o 'Metá Metá' brinca com a escala da música árabe, influência da turnê
marroquinha, que levou a banda a tocar na capital Rabat. Intitulado
'MM3', o novo disco potencializa a agressividade alcançada pela
banda nas performances e canaliza tudo nas nove faixas.
'Três amigos' abre o
álbum preconizando as três partes da 'Metá Metá' – Juçara
Marçal no vocal, Kiko Dinucci na guitarra e Thiago França no
saxofone – hoje os três recebem auxílio de Sergio Machado na
bateria e Marcelo Cabral no baixo. Todos juntos fizeram os arranjos
do novo álbum.
'Angoulême' trás a
primeira parceria do trio, composta especialmente para este disco.
Com forte pegada punk-rock a canção ainda trás experimentação
sonora e vocal de Juçara Marçal – que iniciou a carreira no grupo
vocal e agora pode ser considerada uma das maiores cantoras
brasileiras da atualidade.
'Imagem e amor' é mais
uma parceria de Kiko com Rodrigo Campos, que inicia delicadamente e
logo se transforma em uma tensa experiência. “A imagem do amor não
é pra qualquer um. Fere os olhos desleais, impele os imortais”,
revela a letra. Onde a voz de Juçara ecoa através dos cânticos
comuns na cultura popular árabe.
'Mano légua' é uma
das mais lindas e brutas canções de todos os tempos – com o
saxofone complementando o riff da guitarra enquanto contrapõe os
vocais. Parceria de Juçara com Dinucci. 'Angolana' é mais uma
parceria do trio e representa a canção mais popular do disco. A
melodia dobrada pelo sax e vocal deixa à guitarra a função de
criar uma linha narrativa e ao baixo a criação do clima de
faroeste. Bonito solo apoteótico do França.
'Corpo vão' é mais
uma parceria da cantora, do guitarrista e saxofonista. Como sempre,
os vocais cumprem a função instrumental como um dos pontos de um
triângulo equilátero, que se reforça na participação das cordas
e sopros. 'Osanyin' evoca o senhor das folhas, que no candomblé é
Ossain – o que era pra ser uma canção delicada vai se tornando
pesada e criando clima até se encerrar suavemente.
'Toque certeiro' é uma
parceria entre Siba e Kiko Dinucci e mostra nitidamente as
influências africanas do cantor pernambucano e a veia sambista do
compositor paulistano. Toda essa mistura para criar uma mistura entre
o ritmo tradicional de Mali, o afrobeat da Nigéria com o samba
brasileiro. A perfeita sincronia entre os vértices deste triângulo
impressionam e impregnam os sentidos de quem percebe além do
hermetismo.
'Obá Koso' quer dizer
“Rei Koso” em iorubá e representa a lenda do menino rei. Uma
bela canção representante do Candomblé Ketu. Com esse sentimento o
'Metá Metá' encerra o álbum mais pesado de sua carreira. Oxalá
venham muitos outros pesados, leves, tortos ou mais tortos... Axé!
Repleto de mudanças e
novas misturas, a banda 'Judas' lança EP onde mostra amadurecimento
em três distintas canções.
Depois de uma poderosa
estréia, a banda 'Judas' apresenta um EP com canções que desvelam
novos caminhos e novas misturas. Sempre mesclando o rock folk daquele
velho estilo Bob Dylan recém-eletrificado com a viola caipira tão
presente neste cenário atual.
Neste sentido,
Adalberto Rabelo Filho acertou ao escolher morar em Brasília. Porque
isso possibilitou sua participação na nova cena musical da capital
brasileira. Após ter vindo do 'Numismata' e de ter composto diversas
canções entoadas por gente como Luiz Melodia, Maria Alcina e até
bandas como 'Vespas Mandarinas'.
Se no primeiro álbum
os arranjos das canções de Adalberto primavam pela mescla do
regional caipira com o roquenrou, agora neste EP o 'Judas' vai além.
Criando atmosfera espacial psicodélica, sem deixar de lado o
sertanejo e o roqueiro. Com um EP conceitual, a banda se permite a
recriação do bordel parisiense de conhecido como casa de tolerância
– estabelecimentos onde moças se oferecem e se entregam à luxúria
total.
Mas nem só de
libidinagem vive o EP 'Casa de Tolerância nº 1', que já chega
deixando um gosto de quero mais e antecipando a espera pelo segundo
volume. Adalberto revela que este EP será o primeiro de uma série
que vai relatar a história da orelha cortada de Van Gogh, passando
por temas como “amor e ódio”, “vida e morte” e “doença e
cura”.
O 'Judas' trás
Adalberto nos vocais e composições, Pedro Vaz na viola caipira e
percussões, Bruno César Araújo na guitarra, bandolim e vocais,
Carlos Beleza nas guitarras, Pedro Souto no baixo, Hélio Miranda na
bateria e teclados e Fabio Miranda nos vocais – com participação
de Guilherme Cobelo (o Joe Silhueta) nos vocais de todas as três
faixas.
'Cada cidade, um porto'
é um roquenrou cheio de energia ijexá e com poesia plena definidora
e ilimitada – com as participações da voz de Maria Sabina e
vocais de Cristina Fleury. 'Oroboro' é uma balada misteriosa que
denota rara beleza e pura poesia – mostra toda a delicadeza de
compositor que Adalberto carrega em suas canções. 'Casa de
Tolerância nº 1' foi composta por Adalberto em parceria com Pedro
Vaz, trazendo a participação de Rosa Barros no clarinete – numa
viagem psicodélica e progressiva.
A banda 'Judas' vem se
firmando como uma opção de música de qualidade num cenário de
inúmeras possibilidades e Adalberto como um grande compositor de sua
geração – como se ouve nos versos de 'Oroboro', “Ah, que não
seja meu o mundo em que o amor morreu”. A verdade é que o nome
deste EP revela o sentido de que há de se ter mais tolerância entre
os homens. Mais amor! Por 'Judas'!
Cantor, compositor, poeta, livreiro, violeiro e trovador são as diversas faces de um dos novos artistas da cena musical do cerrado.
Joe Silhueta é
Guilherme Cobelo ou o vice-versa também seria muito correto. Um
personagem criado para vislumbrar de relance o instante da dúvida.
Este é o Joe Silhueta. Que nas palavras do criador, Cobelo, “Eu
sou o Joe Silhueta né? Eu roubei a voz dele para cantar as músicas
que eu fiz, roubei a figura dele, a sombra, me visto de Silhueta pra
não ficar tão dentro de mim”, revela.
Quando Guilherme Cobelo
deu vida ao personagem interior, o Joe Silhueta, percebeu que estava
de frente com uma força natural. Persona que na pior das hipóteses
pode servir de válvula de escape para o artista. “Já tenho para
quem recorrer quando ficar louco”, confessa Cobelo.
“Joe Silhueta é um
bardo grogue que canta os poemas colhidos na noite torta. É um
trovador no sentido de que a letra conduz a canção. Eu gosto muito
e escuto sempre Elomar, que pra mim é o grande rapsodo brasileiro.
Admiro muito o jeito dele tocar violão e cantar as histórias, toda
a mítica sertânica que o envolve”, define Guilherme.
O fato é que ao criar
um heterônimo, Cobelo, se equalizou com diversos artistas
transgressores, como poetas, cantores e cantoras – se transformando
na sua alternativa pessoal aos funcionários públicos,
extra-terrestres ou rainhas monstros – rementendo-nos a Fernando
Pessoa e suas outras facetas de Ricardo Reis a Álvaro de Campos;
David Bowie em Ziggy Stardust; e Lady Gaga com sua Monster Queen, respectivamente.
Ao criar toda uma
mitologia de sertanias, que envolve sua personagem, Cobelo se
tornou parte da própria criação e impossível de dissociar da
silhueta de seu alter ego. “O bom do Silhueta é que, sendo
máscara, posso mudar de rosto quantas vezes quiser, fazer quantas
expressões forem necessárias”, enfatiza Guilherme.
Cobelo também já
lançou o EP 'O Salto do Cenoura', com o 'Tritongo', um trio
instrumental formado por ele, Victor Valentim e Alexandre Lima. O
EP foi gravado como trilha sonora para o curta-metragem de Tiago
Rocha sobre a Cidade Estrutural. Neste EP há um início do
sentimento do Joe Silhueta como personagem...
Mas Cobelo segue transgredindo com boas e atuais composições que versam sobre o cotidiano do cerrado de Brasilia – desde a lei seca a orgasmos múltiplos em horas impróprias...
Como surgiu o Joe
Silhueta?
O nome Joe Silhueta me
veio em 2008. Surgiu do centro de um redemoinho vertiginoso,
coagulou-se em meio ao caos que era a minha vida nessa época. Veio
também feito máscara – plá! – e de repente tava ali diante de
mim, um rosto se oferecendo ao rosto, ou à falta dele. Mas a figura
do Joe como um todo eu ainda não sei quem é. Talvez no começo
tenho sido o estranhamento que eu sentia em relação a mim mesmo que
gerou esse duplo, não estava acostumado com a minha voz, então
acabei inventando uma, várias, para expressar tudo aquilo que estava
borbulhando dentro de mim. Depois veio o personagem, ou pelo menos a
ideia dele, um menestrel errante, um bardo louco, um trovador grogue
vagando por um mundo alucinado, errando pelos abismos de cá e de lá,
cruzando com sereias e quimeras, muito mais sonhando que acordado.
Sombrio. Mítico, sondando raízes profundas e passados fantásticos.
Hoje em dia a Silhueta não é mais tão abissal e já consigo ver
ela boiando em outras águas, feito um peixe sedento de luz solar.
Qual Dylan mais
influenciou o 'Dylanescas'? O poeta ou o cantor?
Quando eu comecei a
compor mesmo, por volta dos 16-17 anos, os discos que mais ouvia eram
do Bob Dylan, minha mãe tinha vários dele e rolava de baixar tudo
quanto é bootleg e outtake na internet. Passava horas tirando as
músicas, traduzindo as letras, aprendendo as afinações que ele
usava nas primeiras gravações, vendo os vídeos, lendo as crônicas,
os poemas. Naturalmente fui assimilando as estruturas dylanescas, por
gosto e por osmose. Quando as canções começaram a sair vieram com
essa cara, por isso o nome do EP. É um tributo a essa influência
que o Dylan exerceu sobre mim. Do Dylan Thomas mesmo não houve muita
influência a não ser através do próprio Bob. 'Fantasmaria' foi
feita em cima do campo harmônico de 'Simple twist of fate';
'Dylanesca' usando o dedilhado de 'Boots of spanish leather'; 'Sapos
e absurdos' no espírito de 'Positively 4th street'. São músicas
velhas, dessa primeira leva de composições para voz e violão, a
mais recente é 'Não ligue o rádio', que deve ser de 2010-11.
Você acha que o Joe
Silhueta se encaixa no cenário do rock-rural?
Faz sentido. Até por
vivermos no sertão do cerrado, no velho centro-oeste, tão próximos
do pasto e das cachoeiras quanto da piração urbana. Muitas vezes o
nosso rock é dançar catira. A tendência é sintética, aproximar
as tradições sonoras. Mas ao mesmo tempo a “tag” rock-rural
pode gerar uma expectativa frustrada, por exemplo, se você colocar
lado a lado o 'Dylanescas' e o 'Quimérico', que estou gravando no
momento e soa muito mais como forró maldito ou um som pantaneiro
urbano, como já disseram uns chegados. É música grogue, tem disso
e daquilo aos quilos, muito do espírito estradeiro de 'Sá, Rodrix e
Guarabyra', dos delírios de Flaviola; e é rural na medida que
Bonifrate e Diego de Moraes o são; sem grilos.
Como foram as gravações
do EP?
Quando o EP começou a
ser gestado a ideia era ser bem dylanesco mesmo, na linha do
'Freewheelin’, voz-violão-gaita, depois veio a ideia de criar mais
arranjos para uma banda de bluegrass, que afinal acabou não saindo
do papel. Além da bateria de 'Sapos e absurdos', todo o resto eu e o
Kelton quem tocou. O disco precisava sair e foi a maneira mais
prática que encontramos para solucionar isso. O Kelton é uma banda
inteira. Já pro lançamento resolvi reunir a malungada e montei a
'Noite Torta' com elementos de várias bandas daqui, além do Kelton
no baixo e voz, tem o Sombrio – aka Lucas Muniz – na sanfona e
clarineta, emprestado do 'Satanique Samba Trio' e 'Cantigas
Boleráveis', o Thiago de Lima Cruz do 'Bloco das Divinas Tetas' e
'Zabumbazul' na percussão, Márlon na bateria e Beleza, do Judas, na
guitarra, membros do 'Almirante Shiva' que também tocam comigo na
'Korina', e Tarso Jones no teclado e Gaivota Naves na voz,
diretamente dos 'Rios Voadores'. É uma loucura, um fuzuê mutante,
amigos tocando junto, ora em octeto, quinteto, ora quarteto, ou solo,
se for o caso, vai saber.
Já existem mais
canções para um segundo EP?
Sim, alguns discos, as
músicas já estão prontas. Tem o 'Sem ponteiros', o 'Lunário', que
são a sequência do 'Dylanescas'. Uma trilogia. Como início de novo
ciclo, pós-'Noite Torta', viria o 'Quimérico', com o 'Bando de
Imburana' com o Munha do 'Satanique Samba Trio', Sombrio e Hélio
Miranda, bateirista dos Rios Voadores – que vai acabar saindo antes
dos outros dois por circunstâncias mágicas. No show de lançamento
a gente misturou um pouco do repertório do 'Bando', que tem um som
muito mais a ver com Alceu Valença no começo de carreira do que com
o Bob Dylan. Então assim, na sequencia do 'Dylanescas' vem esse
outro disco com as sertânicas, um álbum. Embora eu esteja usando o
nome Joe Silhueta para os dois projetos – já que o movimento é
para unifica-los –, o personagem Imburana tem uma mitologia
própria. É o aspecto solar do Silhueta, é ele emergindo dos
abismos galopando uma quimera e se realizando na superfície mundana,
meio lunático ainda, é verdade, mas um pouco mais eufórico que o
duplo anterior. O 'Quimérico' tá sendo produzido pelos
'Tenebrothers' (Jota Dale e Munha da 7), que também são do
'Satanique Samba Trio' e deve sair no segundo semestre de 2016.
Me fala do 'Dom
Caixote'?
O 'Dom Caixote' é um
sebo andarilho que ganhou forma e nome em 2014. Mas vender livro na rua
eu vendo há muito tempo, desde 2004. De bar em bar, de mesa em mesa. Hoje em dia o Caixote
vai até às feiras, ocupa outros espaços, vende pela internet, tem
estante no 'Llolla Lab' e aos poucos vem se tornando também uma
editora e publicadora, tem o selo 'Grogue' que já lançou um texto
meu ('Ela me entregou o cavalo naquele ermo e desapareceu') e uma
coletânea minha e da Gaivota Naves, as 'Kartas do Abismo', que é um
dos cadernos da 'Mitologia Grogue'.
Qual sua opinião com
toda essa questão de free-downloads?
A minha opção com
esse ep foi disponibilizar gratuitamente na internet para conseguir
um alcance maior. Com os próximos lançamentos vou fazer o mesmo,
mas também vou colocar à venda, se alguém quiser pagar, que pague.
Mas espero mesmo vender os discos em shows, por encomenda e no 'Dom
Caixote'. Eu me criei baixando músicas de graça no mirc, no
Napster, em blogs, e acredito que foi graças a toda essa profusão
de informações que cheguei às pérolas. E nunca deixei de comprar
um disco que eu quisesse muito porque já tinha em casa em mp3. É
assim: freetura.
Cantor e compositor
mineiro lança obra que homenageia o carnaval pela alegria contida
nos ritmos tradicionais que são estimulados nesta festa de rua.
Matheus Brant 'Assume
Que Gosta' do carnaval ao lançar o álbum com canções que usam de
ritmos muitos usados nesta festa popular. Já tendo participado de
alguns carnavais na frente do bloco de rua 'Me Beija Que Eu Sou
Pagodeiro', Matheus sabe bem como levantar o público do chão e
levar pro meio do salão.
Com um disco cheio de
diversidade de ritmos, Matheus inicia o percurso com a faixa-título,
'Assume que gosta', que tem uma pegada oitentista nos sitentizadores
de Dustan Gallas numa composição popular extremamente pegajosa de
Brant e Rodrigo Torino.
A dançante 'A levada
do arrocha' vem na sequência trazendo a lambada na guitarrada de
João Ebertta de autoria de Brant com Renato Rosa. Seguida pelo afoxé
'#magrela', que tem a levada na percussão de Lenis Rino. Bela canção
de Brant recheada de aliterações e letra de pura poesia. Ambas com
Tibless, Marina PittierTsezanas e Julia Pittier no coral, que ainda
cantam em 'Me namorar'.
A regravação de
'Abandonado' do 'Exalta Samba' leva ao limite da tênue linha entra o
brega e o chique. Essa canção do Thiaguinho e do Pézinho, na voz
de Brant ganha sutileza e delicadeza e vira um soul classudo. De
carnaval só o pagode da banda original mesmo.... Com participação
de Fábio Pinczowski e Mauro Motoki dobrando a voz no final da canção
e gravando e produzindo todo o resto do álbum.
'Do prazer' tem a
participação de Luê em mais uma bela composição de Brant em
parceria com Renato Rosa. Uma lambada épica! 'Hoje o dia é seu'
pode ser uma nota fora do tom no meio do álbum. Um rock poderoso de
guitarras épicas, baixo preciso e bateria pesada com João Ebertta,
Dustan Gallas e Lenis Rino, respectivamente em todo restante do disco
também.
'A balada' segue com
forró, sertanejo universitário ou que-porra-de-diabéisso que o
Matheus decidiu gravar.... Com essa canção, ele vem provar que o
sertanejo universitário (que na verdade é forró não é?) é ruim
apenas porque não é tem boas letras, métricas ou rimas – ou
seja, uma canção com um conteúdo mais amplo que carros, gatas e
baladas soaria bem melhor – que é o caso desta canção...
Em 'Carnaval' e
'Marchinha francesa' Brant apresentada com o maior bom humor canções
de letras leves e brincalhonas para serem cantadas em uníssono por
toda gente... 'Carnaval' de autoria de Brant e do rapper Kdu dos
Anjos. Coros e palmas por Renato Rosa, Joana Brant, Eduardo Faleiro,
Felipe Barros, Natália Meirelles, Luiza Morais e Rafael Antunes, em
ambas as faixas.
'Sereia' também é uma
marchinha, mas ficou tão eletrificada que mais parece uma canção
dos 'Novos Baianos'. Com participação de Juliana Perdigão, em
composição de Brant e Ana Martins Marques. 'Pagode' trás o melhor
do axé, onde Brant assume que a própria profissão, de advogado,
são de "gostar de falar".
O disco encerra com
três versões dub de canções do mesmo álbum, como 'Assume que
gosta', 'A levada do arrocha' e 'Do prazer'.
Lucas Vasconcelos
revisita a própria carreira e relembra canções que marcaram sua
vida em distintos momentos da vida.
O novo álbum de Lucas Vasconcellos mostra um artista preocupado com a forma de cada canção
e que se mostra diferente do projeto que mantém com a ex-mulher ou
da própria carreira solo. 'Silenciosamente' se desvela como uma obra
singela e intimista.
Um disco terapêutico,
como define o próprio cantor. Que para alguns pode até parecer por
demais depressivo, com todos arranjos ralentando o tempo original das
canções. Quase como uma trilha sonora de noites de sofrimento. Mas
esta forma única de reapresentar as melodias valoriza as letras e
poesias, dando mais ênfase na palavra.
Quando Lucas lançou o
primeiro disco solo 'Falo do Coração' , de 2013, nem imaginava que
ali estariam três canções que serviriam para determinar a urgência
definitiva deste álbum nas faixas 'Meu seu', 'Flor de tudo' e 'Eu
não vou chorar por fora'.
O segundo álbum veio
em 2015 com o belo 'Adotar Cachorros' – que precedeu o registro 'Ao
Vivo na Comuna' do ano anterior – de onde vieram as canções 'O
amor tem que ser mais do que saber escrever uma carta', 'Adotar
cachorros' e 'Silenciosamente'.
Quanto às releituras,
Lucas revisita um sucesso de sua própria banda – o 'Letuce', em
que divide o palco com a cantora Letícia Novaes – a canção
'Areia fina', que ganhou um versão suave e delicada – bem
diferente da versão original que saiu no álbum 'Manja Perene', de
2012.
Interessante ouvir
'Lady grinning soul', original de David Bowie, delicadamente
desconstruída por um Lucas ao piano. Para em seguida apresentar os
clássicos da bossa-nova 'Você e eu' com a introdução de 'O amor
em paz' , numa versão que transmite uma urgência sem precedentes
demonstrada na repetição de parte da letra, bem como nas retomadas
de fôlego e tensas respirações.
O eco nas canções
surge logo no início, na faixa de abertura, com a versão para o
clássico de Hyldon, 'Na rua, na chuva, na fazenda' – onde Lucas
vai mais além ao acrescentar parte da letra de 'Balada do louco', de
Arnaldo Baptista e Rita Lee, e também ao dialogar diretamente com o
ouvinte.
Porém é na versão
desconcertante de 'Teatro dos vampiros' – de Renato Russo e gravada
originalmente pela 'Legião Urbana em 1985, no álbum 'V' – que
Lucas se apodera da canção ao reapresentá-la de forma extremamente
pessoal e com uma interpretação sublime.
Então... Depois que
você ouve e entra em sintonia com a mensagem que o Lucas quer
passar, você deixa de lado a impressão de um disco depressivo e
percebe que você não é mais uma personagem de alguma
ópera-rock-tragicômica... Este disco não é mais essa trilha
sonora...
Você vê o poder
curativo da interpretação pessoal com que Lucas impregnou cada
canção. Quase que dá pra sentir a angústia permeando algumas
canções, enquanto alívio em outras, a calma em mais umas... Uma
bela obra singular.
2016 Silenciosamente
1. Na rua na chuva na
fazenda
2. O amor tem que ser
mais do que saber escrever uma carta
Cantor, compositor e
multi-instrumentista Assis Medeiros volta a seara popular com novo
álbum de pérolas pop.
Assis Medeiros é
daqueles artistas especiais, que fazem grandes canções populares
que quase ninguém conhece. Ele é daquela estirpe desconhecida de
grandes compositores, que ainda precisam ser descobertos por um
grande cantor que os interprete. Tarefa difícil essa de interpretar
as canções deste cantor ímpar, que parece compor para si mesmo de
tão pessoais que são.
Depois de criar dois
álbuns de grandes canções populares – 'Pirata' e 'Burrodecarga'
– Assis voltou as origens com o álbum 'Baiãozinho Nuar', onde
focava no ritmo baião ao mesmo que apresentava canções populares
com esse ritmo. Ele ainda flertou com trilha de cinema em 'Um Pouco
de Dois' e agora voltou a empunhar guitarras com maestria em novas
canções pops neste álbum – 'Lâmina'.
'Sempre será' abre o
álbum com um solo gutural e urgente, com tom profético onde Assis
previu que “esteve tudo como sempre será”. 'Fogo' trás de volta
o ponto forte das composições de Assis, que são as rimas fortes e
arranjos primorosos, neste bolero roqueiro com tempero “caliente”.
Com destreza, Assis
domina as linguagens das guitarras, violões, teclados e ukeleles,
mas também se cerca de competentes atuações musicais como Fernando
Rodrigues no baixo e Marco Guedes na bateria – sem falar nas
diversas participações especiais.
A cantora Flora Lago,
dá voz a canções de climas sensoriais e extraordinários como em
'Agora' e 'Sombra seca', mas brilha mesmo na balada romântica 'Um
pouco de sol'. 'Se você' é intensa e se completa com 'Animal', com
metais frenéticos e frequentes com os majestosos Westonny Rodrigues
(trompete e flughel) e Mesaque Balbino (saxes alto, baritono e tenor)
e Marcos Wander (trombone).
'Eu vou dizer' faz uma
crítica contundente à política do país e soma-se a 'A pluma e
você', que transforma o cenário de São Paulo em crônica urbana.
'Largo' é dedicada à fase psicodélica de Alceu Valença e tem
participação de Leonardo Batista no baixo, enquanto 'Fugir por aí'
evoca a fase áurea dos 'Titãs'. Esse disco é um festival de
guitarras.
'Tudo é pop' é um
reggae popular que trás belos sons de metais e 'Aviso' é um longo
blues de execução singela e sutil. Assis é mestre em criar climas
que surgem através de palhetadas certeiras de solos simples e
precisos, mas ele permite que outros guitarristas também brilhem no
álbum, como Zé Flores e Marcelo Macedo.
Este com certeza é um
álbum de guitarrista e pode-se notar diversas influências que
permearam o universo musical de Assis Medeiros.
Thiago França quer
regatar as charangas de rua que seguirem pelo asfalto de Belo
Horizonte em épocas distantes.
Thiago França é um
dos mais requisitados músicos da nova geração de grandes
instrumentistas brasileiros. Toca saxofone em bandas como 'Metá Metá' – onde divide os palcos com Kiko Dinucci e Juçara Marçal –
e em projetos pessoais como 'Sambanzo' e 'MarginalS', mas também
toca com gente como Criolo, Rodrigo Campos, Elza Soares, Rodrigo Ogi
e muitos outros.
França já em seu
primeiro disco mostrou uma gafieira linda de se ouvir. Depois ele
produziu e se apresentou com Dona Ináh e foi se envolver com a
galera da nova vanguarda paulistana ou com o pessoal do samba sujo de
São Paulo ou da forma como chamam ou são chamados essa nova turma
musical de sampa. Dai para tocar em parceria com gente como Tony
Allen e Mulatu Astatke foi apenas um passo.
Dito
isso, ele lançou um disco de marchinhas de carnaval no primeiro dia
deste 2016 – um álbum que veio dar sequência ao projeto pessoal
da 'Espetacular Charanga'. No primeiro momento, França levantou
temas que remetiam a cumbia e boleros quando lançou o EP 'A Espetacular Charanga do França Ataca Novamente' em 2013. Mas logo
veio com a versão espacial jazzística do projeto em 'Space Charanga' de 2015. Agora ele assume de vez o carnaval e apresenta uma
nova safra de marchinhas inéditas.
O novo disco trás
diversas parcerias como a faixa de abertura, 'O capitão do sax',
composta por França e Alice Coutinho, cantada pela maravilhosa e
inconfundível Juçara Marçal. Douglas Germano dá voz a letra de
'Marchinha do pitbull (homo pitbullicus)' e também toca cavaquinho
nesta composição em parceria com França.
'Adeus saudade' nos
remete aos bons cortejos, composta por França e Rômulo Fróes, que
canta a letra inspiradíssima. 'Gourmetizada' faz uma crítica ácida
a vida social moderna, composta em parceria com Clima e cantada pelo
próprio. Tulipa Ruiz canta 'Cara do apetite', canção que ela mesmo
compôs com França e ainda tem a participação de Luiz Chagas na
guitarra.
França também compôs
sozinho algumas marchas como 'O trombonista' com a guitarra especial
de Rafa Barreto, 'Ferro na boneca' com Kiko Dinucci na guitarra e
'Santa Cecília de Itabirito'. A banda da charanga é França no
sax-alto e tenor, Anderson Quevedo no sax-barítono e flautas,
Amilcar Rodrigues no trompete e flughel, Allan Abbadia no trombone,
Filipe Nader na tuba, Wellington 'Pimpa' Moreira na bateria e agogô
e Samba Sam no surdo. Com participações no flautin e flauta de Cuca
Ferreira, no trombone de Victor Fão e no clarinete de Juliana
Perdigão e Maria Beraldo Bastos.
'O bom marido' trás
Rodrigo Campos na voz, guitarra e composição em parceria com França
– numa típica canção de Campos, onde ele evoca diversos nomes de
personagens naquela característica crônica cotidiana particular.
'Eu vou pra fornalha' é composição de França e Clima, mas com
vocais de Juçara Marçal – a canção evoca os blocos de carnaval
de rua. O coral carnavalesco especialíssimo com gente como Juçara
Marçal, Tika, Victória, Maria Beraldo Bastos, Samba Sam, Caê
Rolfsen, Rafa Barreto e o próprio Thiago França.
Como toda boa folia
carnavalesca, o França também criou o próprio movimento popular
com o 'Espetacular Bloco da Charanga do França', que levou oito mil
pessoas para as ruas de Santa Cecília em São Paulo.
O disco termina com
'Brasirodim' composta por Pimpa, onde ele colocou voz e violão com o
próprio França na flauta – a canção difere do resto do álbum
mas a intenção é essa mesma. “Achei que ia ser massa terminar o
disco com algo apontando pra outra direção. Alguma coisa que não
conversa diretamente com o resto.”, encerra França.
A maior orquestra
brasileira de afrobeat é a 'Abayomy', que com 13 integrantes
apresenta um som pesado e suingado com inúmeras influências.
'Abra Sua Cabeça', o
segundo álbum da 'Abayomy Afrobeat Orquestra' é um disco poderoso
que fala da ancestralidade com delicadeza de quem percebe o mundo de possibilidades e combinações. Nele, a banda impõe uma
pegada suingada bem característica, que é ressaltada pela produção
certeira de Pupillo.
Logo no início a
canção 'Abra sua cabeça' institui um perfil místico e xamânico
do álbum ao evocar os orixás de cabeça de cada um e nos presentear
com um solo venenoso do sax barítono de Thiago Queiroz – a canção
tem introdução de uma fala do próprio Tony Allen – falando
exatamente sobre o outro criador do afrobeat, Fela Kuti.
'Mundo sem memória'
trás o Otto cantando e tendo composto essa pérola em parceria com o
cantor, compositor e guitarrista Zé Vito. A canção enaltece a
beleza da enorme diversidade de raças presentes no Brasil com um
baixo envolvente de Pedro Dantas.
“Atotô” evocam os
que saudam 'Omolu', cantada em yorubá por Alexandre Garnizé, que
também é um dos percussionistas da banda junto com Claudio
Fantinato e Rodrigo Larosa – com solo de guitarra de Gottardi e
destaque para a ambientação do teclado de Maurício Calmon. O
aveludado e melodioso solo do trombone é de Marco Serragrande.
“Atotô”!
'Oya! Oya!' foi
composta por Gustavo Benjão e pelo bateirista Thomas Harres – com
solo da guitarra do próprio Benjão, que divide o posto com
Gottardi. 'Com quem', composta pelo saxofonista Fabio Lima,
estabelece o tema do karma ou da reciprocidade como moeda moral dos
dias de hoje na canção, mas direciona a crítica ao viés político
dos que comandam o país através de alianças e concessões. Com uma
levada quase de funk-carioca a canção cativa com o lindo solo do
trompete de Leandro Joaquim.
'Sensitiva' trás a
participação da Céu num reggae transcendental com guitarra slide
de Zé Vitor e solo de flauta da Mônica Avila, que também toca sax
alto em outras canções. 'Tony relax' trás a participação de Tony
Allen, vocais em francês de Thiago Queiroz e solo de trompete de
Leandro Joaquim.
'Vou pra onde vou'
transparece a pegada musical do produtor, até porque conta com os
vocais de Jorge Dupeixe e a bateria do próprio Pupillo. Encerrando
com mais uma crônica de Fabio Lima, 'Peleja' – onde ele enaltece o
sentimento de sermos todos irmãos pertencentes a mesma raça de
seres humanos – com novo solo de trompete de Leandro Joaquim.
O novo álbum da
'Abayomy' é mais potente e pegajoso que o anterior e denota certa
evolução dessa galera do bem. Parabéns a todos vocês que formam
essa maravilhóptima “Orquestra de Afrobeat do Encontro Feliz”!
Vocês são phodas!!!
Ouvi o disco todo e
achei um climão soturno pesadão – não sei se foi os vocais sobrepostos ou a
base eletrônica.... bem diferente do usual e tradicional – Amei as referências das
influencias que vão desde os “standarts” clássicos e ao som
industrial.
'Kanazawa é épica' –
Ô coisa marlinda! 'Rooftop' tem ecos de Bjork.... 'Bergére'
também... Governador Valadares' é puro videogame.... 'Lilith' cria
quase um mantra espacial.... 'Laniakea' tem um climão poderoso de
ficção científica....
Me pareceu que o som
nasceu como se brotasse de algum lugar....
Ligiana: Sua impressão
foi certeira! As coisas nasceram juntas mesmo, muitas vezes inclusive
a composição acontecia no próprio estúdio, gravando, compondo,
arranjando... Tudo bem misturado e sem um método a seguir. Em outros
casos como 'Lilith' ou a 'Toxic' a música já existia e daí
começávamos já pelo arranjo. Mas confesso que a cara do 'NU' é
criar tudo junto, flui muito bem!
Edson: Foi assim mesmo!
A gente se encontrava frequentemente no estúdio e desde o primeiro
encontro coisas iam surgindo. Foi um processo bem orgânico. As vezes
trabalhávamos a partir de uma base, uma melodia, um estimulo visual,
e as musicas aconteciam. Num primeiro encontro a 'Rooftop' surgiu
praticamente inteira, depois iamos lapidando. O timbre e a textura
das musicas era muito importante, então trabalhávamos bastante
nisso até encontrar o caminho de cada uma. Foi um processo em que
produção, arranjo, mixagem iam acontecendo juntos pra dar a cara de
cada uma já desde o inicio.
Existe um fio condutor
do álbum?
L: “O que está em
cima é como o que está embaixo”... Falamos das galáxias, de
observar o desconhecido, de imaginar nosso lugar na vastidão do
todo, mas também falamos de política, das lutas sociais, das
injustiças. Eu vejo o 'NU' meio como um “zoom out” para voltar
para dentro com mais força questionadora. Do ponto de vista poético
e estético acho que é isso.
E: A vastidão do
Universo! :) Um olhar de fora pra dentro pra se perceber nesse
espaço-oceano-tempo. Contemplar o céu, as galáxias de fora e de
dentro.
Como são as
apresentações ao vivo?
L: A gente tem feito
muitas já, na verdade começamos a fazer shows antes de terminar o
disco. Temos feito de tudo, palcos enormes e palcos minimais... Em
breve teremos uma surpresa visual que acho que vai dar ao nosso show
ainda mais este caráter cinemático. Alguns trechos de shows podem
ser vistos no nosso canal de youtube!
E: Temos feito shows já
há algum tempo, antes mesmo do disco ficar pronto, e temos
encontrado o tom desse ao vivo cada vez mais cênico. Estamos agora
trabalhando pesado na criação visual, que vai ficar incrível.
Surpresa pra muito breve!
Pode enumerar algumas influências menos
óbvias?
L: As menos óbvias
talvez sejam os mundos sonoros frequentados por mim e por Edson...
Eu, particularmente, me dediquei e me dedico também à música
antiga, em especial do século XVII – atualmente sou pós
doutoranda na USP neste assunto. Então ouço, faço e viajo em ondas
muito amplas, de Machaut a Arrigo Barnabé, de Monteverdi a Moacir
Santos. Acho que de algum modo essa abertura se reflete no que
fazemos, por exemplo: em vários momentos nos inspiramos em toques do
candomblé para pensar em nossos beats. De forma bem literal essa
ligação com outros tempos acontece na 'Bergére', que é uma “air
de cour” do século XVII relida pelo 'NU'.
E: Pois é! As
influências são muitas mesmo, numa paleta que vai de Stockhausen a 'Nine Inch Nails', passando por 'Sigur Rós' e pelos toques do candomblé,
além de uma pitada cinemática.
A ideia era que o disco
fosse tão industrial?
E: Não pensamos muito
na estética final do disco. Ele foi acontecendo no processo e as
descobertas sonoras encaminharam a gente pra esse resultado. Acho
interessante que vc perceba ele industrial. Eu acho que ele tem
“ecos” industriais em alguns momentos, assim como ecoam outras
sonoridades também. Vejo cada música como uma história
sonora-imagética que passa por diferentes paisagens, mundos e
sensações.
L: A ideia não “era”,
no sentido que não é um trabalho concebido pensando em seu fim. Eu
gosto desta palavra “industrial”, não sei muito se nosso
trabalho é “industrial”, mas acho interessante que te soe assim!
A gente tem se auto nomeado “eletrônico barroco”, pela variedade
de afetos, pelo desejo sonoro de introspecção e expansão.
Larissa Luz lança obra ímpar que apresenta diversas homenagens a personalidades femininas negras que despontaram com sucesso em cenários discriminatórios.
O som de Larissa Luz
reflete o sinal dos novos tempos, onde a cultura negra é
reverenciada e evocada como nova tendência – no chamado movimento
afrofuturismo, afropunk etc.
Numa mistura de rep,
roquenrou, trap e dubstep a cantora aborda a música baiana e mostra
definitivamente que os soteropolitanos não assumem o axé apenas
como ritmo, mas também como saudação religiosa.
O novo álbum da
cantora Larissa Luz apresenta a visão feminista em um disco grande e
maravilhoso. Apesar de ser filha de Oyá, Larissa assume exu para
entregar uma mensagem necessária que inicia o empodeiramento de toda
mulher – e principalmente a mulher negra.
O álbum 'Território Conquistado' levou em consideração a imagem de mulheres negras
influentes como a cantora Nina Simone, a poetiza Victória Santa Cruz
e a escritora Bell Hooks, além da colaboração conceitual da
antropóloga Goli Guerreiro.
São dez canções
poderosas que refletem a busca de Larissa por influências que lhe
são semelhantes – com as quais ela possa se identificar. Trate o
álbum como uma tese acadêmica. A faixa de abertura 'Descolonizada',
atua como uma introdução do tema e mostrando a que veio.
'Banho de mar' pede
licença ao orixá e segue trazendo a receita contra o mau-olhado
“arruda na orelha e banho mar”. Em 'Transe', a cantora usa
trechos do poema 'Abebé omin' de Lívia Natália, para falar de
espiritualidade – dedicada a Makota Valdina.
Em 'Meu sexo', Larissa
assume o microfone e fala sobre um assunto tabu e polêmico na “boca
machista da mídia branca e careca”, mas que encontra profunda
delicadeza e naturalidade na voz da cantora. 'Bonecas pretas' fala da
necessidade das meninas negras de terem representação de sua
identidade no mercado de consumo.
'Mama chama' tem
participação de Thalma de Freitas, composta em parceria com a
também cantora Manuela Rodrigues – canção dedicada a Regina Luz,
conhecida educadora e mãe da cantora – onde Thalma recita outro
poema da baiana Lívia Natália. 'Letras negras' foi inspirada pela
escritora Carolina de Jesus, enquanto 'Nollywood' remete à autora
nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, juntamente com o cinema africano.
Para a cantora, a
canção título 'Território conquistado' é o ponto alto do álbum.
Um canção dedicada e com participação especial da
cantora Elza Soares. “Intensidade transbordando e inundando o mundo
com poder feminino, força negra e muita verdade”, afirma Larissa.
Encerrando o álbum de
forma contundente, com a canção 'Violenta', que dá uma visão
curadora e renovadora a toda a mulher negra que já sofreu violência.
Esse disco é uma obra
transformadora!
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