Projeto 'NU' reúne Ligiana Costa e Edson Secco apresentando um eletrônico barroco com influências diversas.
Ouvi o disco todo e
achei um climão soturno pesadão – não sei se foi os vocais sobrepostos ou a
base eletrônica.... bem diferente do usual e tradicional – Amei as referências das
influencias que vão desde os “standarts” clássicos e ao som
industrial.
'Kanazawa é épica' –
Ô coisa marlinda! 'Rooftop' tem ecos de Bjork.... 'Bergére'
também... Governador Valadares' é puro videogame.... 'Lilith' cria
quase um mantra espacial.... 'Laniakea' tem um climão poderoso de
ficção científica....
Me pareceu que o som
nasceu como se brotasse de algum lugar....
Ligiana: Sua impressão
foi certeira! As coisas nasceram juntas mesmo, muitas vezes inclusive
a composição acontecia no próprio estúdio, gravando, compondo,
arranjando... Tudo bem misturado e sem um método a seguir. Em outros
casos como 'Lilith' ou a 'Toxic' a música já existia e daí
começávamos já pelo arranjo. Mas confesso que a cara do 'NU' é
criar tudo junto, flui muito bem!
Edson: Foi assim mesmo!
A gente se encontrava frequentemente no estúdio e desde o primeiro
encontro coisas iam surgindo. Foi um processo bem orgânico. As vezes
trabalhávamos a partir de uma base, uma melodia, um estimulo visual,
e as musicas aconteciam. Num primeiro encontro a 'Rooftop' surgiu
praticamente inteira, depois iamos lapidando. O timbre e a textura
das musicas era muito importante, então trabalhávamos bastante
nisso até encontrar o caminho de cada uma. Foi um processo em que
produção, arranjo, mixagem iam acontecendo juntos pra dar a cara de
cada uma já desde o inicio.
Existe um fio condutor
do álbum?
L: “O que está em
cima é como o que está embaixo”... Falamos das galáxias, de
observar o desconhecido, de imaginar nosso lugar na vastidão do
todo, mas também falamos de política, das lutas sociais, das
injustiças. Eu vejo o 'NU' meio como um “zoom out” para voltar
para dentro com mais força questionadora. Do ponto de vista poético
e estético acho que é isso.
E: A vastidão do
Universo! :) Um olhar de fora pra dentro pra se perceber nesse
espaço-oceano-tempo. Contemplar o céu, as galáxias de fora e de
dentro.
Como são as
apresentações ao vivo?
L: A gente tem feito
muitas já, na verdade começamos a fazer shows antes de terminar o
disco. Temos feito de tudo, palcos enormes e palcos minimais... Em
breve teremos uma surpresa visual que acho que vai dar ao nosso show
ainda mais este caráter cinemático. Alguns trechos de shows podem
ser vistos no nosso canal de youtube!
E: Temos feito shows já
há algum tempo, antes mesmo do disco ficar pronto, e temos
encontrado o tom desse ao vivo cada vez mais cênico. Estamos agora
trabalhando pesado na criação visual, que vai ficar incrível.
Surpresa pra muito breve!
Pode enumerar algumas influências menos
óbvias?
L: As menos óbvias
talvez sejam os mundos sonoros frequentados por mim e por Edson...
Eu, particularmente, me dediquei e me dedico também à música
antiga, em especial do século XVII – atualmente sou pós
doutoranda na USP neste assunto. Então ouço, faço e viajo em ondas
muito amplas, de Machaut a Arrigo Barnabé, de Monteverdi a Moacir
Santos. Acho que de algum modo essa abertura se reflete no que
fazemos, por exemplo: em vários momentos nos inspiramos em toques do
candomblé para pensar em nossos beats. De forma bem literal essa
ligação com outros tempos acontece na 'Bergére', que é uma “air
de cour” do século XVII relida pelo 'NU'.
E: Pois é! As
influências são muitas mesmo, numa paleta que vai de Stockhausen a 'Nine Inch Nails', passando por 'Sigur Rós' e pelos toques do candomblé,
além de uma pitada cinemática.
A ideia era que o disco
fosse tão industrial?
E: Não pensamos muito
na estética final do disco. Ele foi acontecendo no processo e as
descobertas sonoras encaminharam a gente pra esse resultado. Acho
interessante que vc perceba ele industrial. Eu acho que ele tem
“ecos” industriais em alguns momentos, assim como ecoam outras
sonoridades também. Vejo cada música como uma história
sonora-imagética que passa por diferentes paisagens, mundos e
sensações.
L: A ideia não “era”,
no sentido que não é um trabalho concebido pensando em seu fim. Eu
gosto desta palavra “industrial”, não sei muito se nosso
trabalho é “industrial”, mas acho interessante que te soe assim!
A gente tem se auto nomeado “eletrônico barroco”, pela variedade
de afetos, pelo desejo sonoro de introspecção e expansão.
2015 NU
1. Quem
2. Kanazawa
3. Praia Hotel
4. Governador Valadares
5. Laniakea
6. Toxic
7. Bergere
8. Rooftop
9. Lilith
10. MúsicaBomba
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