Cantor e compositor
brasileiro segue em movimento desde São Mateus (SP), no primeiro
álbum, passando pela Bahia, no segundo, e indo ao oriente neste
disco recém-lançado.
Em 'Conversas com
Toshiro', Rodrigo Campos apresenta sua viagem particular ao universo
japonês, desde mangás, atores e cineastas, desenhos de Hayao
Myiazaki aos livros de Haruki Murakami.
Tudo funciona como
estopim para o cantor e compositor apresentar canções sublimes que
parecem evocar com delicadeza o percurso iniciado nos álbuns
anteriores – 'São Mateus não é um Lugar Assim tão Longe' de
2009 e 'Bahia Fantástica' de 2012.
O novo álbum reforça
a ideia do mapa imaginário criado por Rodrigo, onde tanto São
Mateus, Bahia e o Japão vivem dentro de si – ou melhor, das
canções. Desde o primeiro disco de 2009, que evocava o bairro
natural, Rodrigo carrega em si a geografia sentimental de suas
referências. Seja nas canções nostálgicas refletindo a
jovialidade de São Mateus, as influências presentes na arte de
baianos ilustres como Caymmi, Caribé e Amado; e agora com as
referências a cultura pop japonesa.
Tem as canções que
remetem a cinematografia através da referências a artistas como o
ator Toshiro Mifune, os diretores Takeshi Kitano, Ozu Yasujiro e Wong
Kar-Wai – apenas para mencionar as referências mais óbvias.
Como uma ópera
oriental, Rodrigo desfila personagens como Asayo, Katsumi e Funatsu,
ao invés de gente como Isac, Lúcia, Aninha, Elias e Fabrício. As
imagens enigmáticas do oriente são traduzidas nos arranjos que
evocam sempre o país-do-sol-nascente.
Rodrigo Campos toca
guitarra e canta em todas composições, com participações de Ná
Ozzetti e Juçara Marçal nos vocais, Marcelo Cabral no baixo,
Curumin na bateria e Thiago França – com Dustan Gallas nos
teclados e guitarras pontualmente em algumas faixas.
Produzido pelo próprio
Campos e Rômulo Fróes, o disco é dividido em duas partes – a
primeira parte é 'Amor e Brutalidade' e traduz uma urgência pelo
arranjo coeso e rigoroso, sempre evocando a música oriental na
vocalização das cantoras... Em 'Dois sozinhos', há o belíssimo
diálogo entre as duas vozes femininas e o saxofone de Thiago França.
A segunda parte,
'Paisagem na Neblina', evoca a delicadeza dos rituais orientais
através de faixas em que permeiam arranjos de cordas, como 'Abraço
de Ozu'; e de sopros como em 'Toshiro reverso', 'Veho amarelo'
(gravada por Juçara Marçal ano passado) e 'Toshiro vingança', que
junto com a canção 'Katsumi' demonstram letras recheadas de
erotismo e simbologia.
'Mar do Japão' revive
o cenário do tsunami que arrasou o país, sem deixar a brasilidade
de lado. 'Paisagem na neblina' tem a participação de Filipe Castro
tocando o fagote – ele também participa da canção 'Chiriro' –
que evoca ecos do estúdio Ghibli, através da personagem principal
de 'A Viagem de Chiriro' de Hayao Myiazaki, filme que venceu o
primeiro Oscar de animação.
As canções 'Funatsu',
'Wong Kar-Wai' e 'Takeshi e Asayo' estão incluídas na primeira
parte do álbum e por consequência são mais densas e de arranjos
mais tensos – sem nunca esquecer o clima oriental do cancioneiro
japonês. 'Dono da bateria' encerra o disco com Rodrigo apenas em voz
e violão, em uma canção de Rômulo Fróes e Nuno Ramos.
'Conversas com Toshiro'
de Rodrigo Campos se sustenta como um dos melhores lançamentos do
ano, com mais um dos grandes discos da nova discografia popular
brasileira. Imperdível.
2015 Conversas com
Toshiro
1. Takeshi e Asayo
2. Wong Kar-Wai
3. Katsumi
4. Dois sozinhos
5. Funatso
6. Abraço de Ozu
7. Chiriro
8. Toshiro reverso
9. Mar do Japão
10. Paisagem na neblina
11. Toshiro vingança
12. Velho amarelo
13. Dono da bateria
Um comentário:
mais uma excelente obra do Rodrigo.
de uma beleza melódica típica dos trabalhos anteriores.
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