9.27.2015

O JAPÃO NA VISÃO DE RODRIGO CAMPOS

Cantor e compositor brasileiro segue em movimento desde São Mateus (SP), no primeiro álbum, passando pela Bahia, no segundo, e indo ao oriente neste disco recém-lançado.


Em 'Conversas com Toshiro', Rodrigo Campos apresenta sua viagem particular ao universo japonês, desde mangás, atores e cineastas, desenhos de Hayao Myiazaki aos livros de Haruki Murakami.

Tudo funciona como estopim para o cantor e compositor apresentar canções sublimes que parecem evocar com delicadeza o percurso iniciado nos álbuns anteriores – 'São Mateus não é um Lugar Assim tão Longe' de 2009 e 'Bahia Fantástica' de 2012.

O novo álbum reforça a ideia do mapa imaginário criado por Rodrigo, onde tanto São Mateus, Bahia e o Japão vivem dentro de si – ou melhor, das canções. Desde o primeiro disco de 2009, que evocava o bairro natural, Rodrigo carrega em si a geografia sentimental de suas referências. Seja nas canções nostálgicas refletindo a jovialidade de São Mateus, as influências presentes na arte de baianos ilustres como Caymmi, Caribé e Amado; e agora com as referências a cultura pop japonesa.

Tem as canções que remetem a cinematografia através da referências a artistas como o ator Toshiro Mifune, os diretores Takeshi Kitano, Ozu Yasujiro e Wong Kar-Wai – apenas para mencionar as referências mais óbvias.

Como uma ópera oriental, Rodrigo desfila personagens como Asayo, Katsumi e Funatsu, ao invés de gente como Isac, Lúcia, Aninha, Elias e Fabrício. As imagens enigmáticas do oriente são traduzidas nos arranjos que evocam sempre o país-do-sol-nascente.

Rodrigo Campos toca guitarra e canta em todas composições, com participações de Ná Ozzetti e Juçara Marçal nos vocais, Marcelo Cabral no baixo, Curumin na bateria e Thiago França – com Dustan Gallas nos teclados e guitarras pontualmente em algumas faixas.

Produzido pelo próprio Campos e Rômulo Fróes, o disco é dividido em duas partes – a primeira parte é 'Amor e Brutalidade' e traduz uma urgência pelo arranjo coeso e rigoroso, sempre evocando a música oriental na vocalização das cantoras... Em 'Dois sozinhos', há o belíssimo diálogo entre as duas vozes femininas e o saxofone de Thiago França.

A segunda parte, 'Paisagem na Neblina', evoca a delicadeza dos rituais orientais através de faixas em que permeiam arranjos de cordas, como 'Abraço de Ozu'; e de sopros como em 'Toshiro reverso', 'Veho amarelo' (gravada por Juçara Marçal ano passado) e 'Toshiro vingança', que junto com a canção 'Katsumi' demonstram letras recheadas de erotismo e simbologia.

'Mar do Japão' revive o cenário do tsunami que arrasou o país, sem deixar a brasilidade de lado. 'Paisagem na neblina' tem a participação de Filipe Castro tocando o fagote – ele também participa da canção 'Chiriro' – que evoca ecos do estúdio Ghibli, através da personagem principal de 'A Viagem de Chiriro' de Hayao Myiazaki, filme que venceu o primeiro Oscar de animação.

As canções 'Funatsu', 'Wong Kar-Wai' e 'Takeshi e Asayo' estão incluídas na primeira parte do álbum e por consequência são mais densas e de arranjos mais tensos – sem nunca esquecer o clima oriental do cancioneiro japonês. 'Dono da bateria' encerra o disco com Rodrigo apenas em voz e violão, em uma canção de Rômulo Fróes e Nuno Ramos.

'Conversas com Toshiro' de Rodrigo Campos se sustenta como um dos melhores lançamentos do ano, com mais um dos grandes discos da nova discografia popular brasileira. Imperdível.

2015 Conversas com Toshiro

1. Takeshi e Asayo
2. Wong Kar-Wai
3. Katsumi
4. Dois sozinhos
5. Funatso
6. Abraço de Ozu
7. Chiriro
8. Toshiro reverso
9. Mar do Japão
10. Paisagem na neblina
11. Toshiro vingança
12. Velho amarelo
13. Dono da bateria

Um comentário:

Gil disse...

mais uma excelente obra do Rodrigo.
de uma beleza melódica típica dos trabalhos anteriores.