Cantor paulistano
apresenta obra madura em disco conceitual cheio de referências que
vão desde 'Bossa Nova', 'Tropicália' ao 'Clube da Esquina'.
O terceiro álbum de
Pipo Pegoraro chega com identidade única e apresenta uma banda de
pegada forte, firme e coesa. Com produção e direção musical de
Romulo Fróes, a banda fez uma imersão em estúdios de ensaio e
definiu os arranjos de todo disco.
Esta banda é formada
por Décio 7 na bateria, Gustavo Cék na percussão, Marcelo Dworecki
no baixo, Cuca Ferreira no saxofone e flauta, Fernando TRZ no piano e
Lucas Cirillo na gaita, além do próprio Pipo nas guitarras e
vocais.
O álbum abre com
'Aiyê', uma delicada overture para um complexa obra conceitual.
'Cambaleei' tem participação de Xênia França nos vocais – que
também divide os vocais com Pipo na banda 'Aláfia'. 'Dia desses'
apresenta uma peça “rockenrou”, meio afrobeat, meio jazz – um
dos belos resultados dos ensaios exaustivos para a criação de todos
arranjos.
'Indecifrável' tem a
voz de Filipe Catto – sem falar na segunda aparição de Xênia –
com a percussão adicional de Guilherme Kastrup, o clarinete de Luca
Raele e baixo acústico de Marcelo Cabral, numa canção composta em
parceria por Pipo e Fróes. 'Olhos de Henri' é o perfeito interlúdio
para esta obra envolvente e “submersiva”.
'Sabão de coco' trás
um quarteto de cordas – com Veridiana Oliveira e Alexandre Brito
(violino), Marcio Eli Junior (viola) e Yaniel Matos (violoncelo) –
numa canção de estranha beleza, mas que remete ao som natural do
Brasil, evocado lindamente anteriormente por Tom Jobim e pelos
mineiros do 'Clube da Esquina'. Além das influências das terras
tupiniquins, Pegoraro apresenta referenciais no outro lado do
Atlântico.
Em 'Pra continuar' ele
introduz o tema em loop remetendo à introdução de 'On the run' do
'Pink Floyd' – no 'Dark Side of the Moon'. Para logo em seguida
apresentar ecos de 'Let there be more light' –
faixa de abertura do álbum 'A Sacerfull of Secrets' do mesmo 'Pink
Floyd'. Com a voz cadente de Romulo Fróes, a canção parece mesmo
ter saído de algum álbum dos bardos ingleses, mas sempre mantendo o
tempero característico do inúmeros mulatos inzoneiros, que são
reverenciados neste álbum.
'Saudação' segue como
uma vinheta de abertura para a canção 'Rosália', que conta com o
vibrafone de Beto Montag fazendo contraponto ao conjunto da obra.
Nessa canção, Pipo vai desvelando o material e deixando claro que
sua zona de conforto ficou para trás – como diz a letra em “me
levaram pra navegar em outras águas” – canção de Pipo e Pablo Casella.
'O que só cabe em nós'
encerra o álbum dando um resultado a todo contexto, como o final de
um tear ou numa colagem antropofágica. Com a voz de Luz Marina e
composta numa parceria de Pegoraro com o poeta Arruda, a canção além
de dar título à obra, revela o significado de tudo que foi
apresentado desde então.
O disco de Pipo Pegoraro define-se apenas no final. Desvela-se quando finda.
Enfim... Ouça até o fim e verá...
2014 Mergulhar
Mergulhei
1. Aiyê
2. Cambaleei
3. Dia desses
4. Indecifrável
5. Olhos de Henri
6. Sabão de coco
7. Pra continuar
8. Saudação
9. Rosália
10. O que só cabe em
nós
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