Trompetista acredita
que a auto-produção e promoção é a verdadeira ferramenta do
artista em meio às mudanças do novo mercado musical.
Leandro Joaquim é o
trompetista de bandas como 'Abayomy', 'Paraphernália' e da banda de
apoio de Jards Macalé – sem falar que foi um dos fundadores da
banda 'Sobrado 112', junto com Zé Vito e Claudio Fantinato, que
também o acompanham nas levadas afrobeat.
“O Sobrado 112 foi
nosso celeiro de idéias e laboratório de produção e criação por
muito tempo. A demanda era grande, a
banda gravou três discos em três anos. remamos muito juntos, mas
demos muita cabeçada também”, declara
Leandro. Para ele, a banda
encerrou as atividades pela preservação das amizades – tanto que
todos tocam juntos na 'Abayomy'.
Leandro lançou o
primeiro álbum solo, 'Sobre as Cores e o Nosso Tempo', com produção
de Ricardo Dias Gomes – que toca baixo e piano com o 'Do Amor' e
com a banda 'Cê', de Caetano Veloso. “Como eles já tocam a muito
tempo com o Caetano e tem uma linguagem de banda bem definida e uma
pegada seriamente roquenrou, o Ricardinho chamou o Pedro Sá e
Marcelo Callado pra fazer as primeiras bases”, conclui.
A gravações
aconteceram no 'Audio Rebel', com um equipamento das antigas e fitas
de duas polegadas. “Tudo isso pra trazer o amalgama do som que foi
gravado ao vivo, em sua grande maioria. Refiz apenas vozes e sopros.
A base valeu sempre o melhor take ao vivo”, afirma
Leandro.
O álbum abre com
'Jóias e gestos' – “um blues de protesto que fiz pra uma
vizinha. A letra traça um paralelo entre os diversos equívocos de
comportamento que nossa sociedade moderna desfila, e a zona que era
aquela casa! Cru, o synth é sujo, na bateria usamos apenas os mics
“over all”. Amps de baixo e guita na mesma sala da batera. Pintou
também uma surdina wha-wha no trompete que quase parece uma gaita”,
comenta
Leandro.
Sobre 'Pero que si,
pero que no',
Leandro confirma que compôs “esse Ska no tempo do
Sobrado e tocávamos na abertura do show, porem em ritmo de tango!
(rs) Marlon Sette e Ze Carlos Bigorna fizeram trombone e sax tenor
comigo. Gustavo Benjão fez guitarra pica-pau. Ficou Skatalites
total!curti muito o resultado, e ainda tem um feedback da máquina de
fita no inicio que dá uma onda “Jamaica Studio One””.
'Em suma, na real, de
fato'
Leandro trouxe de volta o pessoal do 'Sobrado 112'. “Convidei
os caras do 'Sobrado' pra fazer uma releitura dessa musica que
tocávamos mas nunca gravamos. Legal notar a influencia afrobeat já
constando, mesmo antes de fundarmos a 'Abayomy Orquestra'.
'Sobre as cores e o
nosso tempo', “era uma bossa nova que fala de amor e paisagem,
porém foi desconstruída e virou uma sinfonia de ruídos e
passarinhos cibernéticos, sem samba, sem violão. Os efeitos e
ficaram por conta do Duplexx, Leo Monteiro e o Rodrigo Bartolo. O
desfecho da sinfonia se dá com um solo de flugelhorn estilo Chet
Baker e o Bartolo fazendo uma guitarra (no melhor estilo Lafayette)
Roberto Carlos. Tem um synth subwoofer do Ricardo Dias Gomes, que
chega a ser desconfortável de tão sub!! Acrescentamos uma certa
acidez e estranheza naquela paisagem bossa-novística”.
'Tanto quando o
encanto' é a balada do álbum. “Essa valsa minimalista tem uma
certa influência erudita. Usei piano fender rodhes e a Joana Queiroz
gravou o clarinete, que passeia lindamente ao redor da letra que fala
de amor, jardim, flor, colibri e girassol”, comenta
Leandro.
Em 'Fofafifo's blues',
Leandro apresenta as participações de Alberto Continentino no baixo
acústico, Stephane San Juan na bateria, Ricardo Dias Gomes no rhodes
e Rodrigo Munhoz no sax tenor. “É um blues estilo “boogaloo”,
meio funkeado, meio jazzy”, confirma ele.
'Daqui pra frente é só
relaxo' continua a tradição “sobradiana” de modificar canções
pré-concebidas em certo estilo para uma coisa completamente
diferente. “Era chorinho, mas virou dubwise puro”, ressalta
Leandro. 'Faça algo por você' trás a participação de B. Negão
nos vocais. “É uma crítica contundente e levante contra a
manipulação feita pelo sistema através dos veículos de
propaganda”, afirma ele.
O álbum se encerra com
'Dona de castelo' de autoria de Jards Macalé e Waly Salomão, com
participação de Joana Queiroz no clarone em contraponto com o baixo
de Ricardo Dias Gomes. “O próprio Jards sugeriu que eu gravasse
uma de suas baladas em versão instrumental e eu escolhi a mais
dificil!!! (rsrsrsrs)”, encerra
Leandro.
Pela própria
auto-produção e promoção,
Leandro lança este álbum com
propriedade de quem já é veterano. Apresentando um punhado de belas
canções embaladas num produto de extremo bom gosto.
O fato é que este
disco é uma das grandes surpresas do ano e com certeza um dos
grandes lançamentos atuais.
2014 Sobre as Cores e o
Nosso Tempo
1. Jóias e gestos
2. Pero que si, pero
que no
3. Em suma, na real, de
fato
4. Sobre as cores e o
nosso tempo
5. Tanto quando o
encanto
6. Fofafifo's blues
7. Daqui pra frente é
só relaxo
8. Faça algo por você
(& B.Negão)
9. Dona do castelo