Qual é a cara dos MarginalS? Tem a cara do trio Thiago França, Marcelo Cabral e Anthony Gordin – sopros, baixo e bateria, respectivamente.
Juntos, França, Cabral e Gordin, formam o MarginalS, e fazem um som instrumental que dificilmente se encaixa em qualquer estereotipo ou rótulo. É um som que muda a cada dia, porque é totalmente improvisado.
A banda lançou um disco pela internet no momento em que comemorava o primeiro aniversário como grupo e o Thiago França conversou sobre esse álbum.
Como é o som dos MarginalS?
Nosso som é 100% improvisado, ou seja, cada show é único, tudo é espontâneo e instantâneo, mas o MarginalS tem uma cara, um jeitão, e uma sonoridade. A gente passeia pelo caos e pelo lírico, por grooves pesados e abstrações musicais. O grande lance é o encontro dos três, eu Cabral e Tony, cada um com a sua história e fazendo um som junto. Eu, por exemplo, tô sempre pensando em caminhos alternativos como solista, o saxofone já foi explorado tanto que parece que não há mais o que fazer. Tenho usado alguns pedais de efeito (delay, octaver, phaser…) pra criar texturas e situações, montar acordes, distorcer o som do instrumento, dá pra sacar bem isso no disco. Ou às vezes, simplesmente me jogar na fogueira sem saber o que vai sair e criar em cima disso. O disco não teve pós-produção, todos os efeitos rolam na hora mesmo, tudo ao vivo, a não ser na última faixa do disco (parte 2, parte 3), que passamos um filtro na bateria e colocamos um drive (aquele efeito meio rachado) no baixo acústico e no EWI (que é uma espécie de saxofone MIDI, tipo um teclado), mas ficou sutil e natural, muita gente nem percebe. Daqui um ano, não sei como vai estar o som, e não importa: o mote mesmo é tocar junto, o que acontece quando nós três nos encontramos, aconteça o que acontecer, um por todos, todos por um. Estamos bem felizes de ter gravado o disco e lançado no nosso aniversário de um ano e da repercussão que está tendo.
Como nasceu o disco sem nome? Foi pensado em algum conceito?
O disco existe por ele próprio, como um retrato. Não sei se você está se referindo aos vídeos do MarginalS no youtube. Eles não tem a ver com o disco, são extratos de gravações da época que a gente tocava no +Soma. Queríamos disponibilizar alguma coisa, mas um trecho sozinho não tem o mesmo sentido que no set completo (geralmente com 1 hora de duração), pois como a gente toca sem parar, o que vem antes e depois é essencial, muda completamente a impressão daquele som. Daí veio a idéia dos vídeos, que no caso, a música entra quase que como trilha sonora e ganha vida própria, independente do todo de onde ela surgiu.
Porque MarginalS e não Marginais? O que significa o S maiúsculo?
Não foi uma escolha muito pensada… aliás, nada do que a gente faz é, é tudo meio na base da intuição. Depois de uns meses de resistência minha, começamos a escolher o nome. No início eu não queria, por mim seria só o nome dos três. Mas fomos percebendo que nasceu ali uma coisa nova e única, era mais que um encontro casual. Quando o Cabral apareceu com o nome, eu e o Tony gostamos de cara, soou bem e pareceu correto pra proposta do som. O "S" maiúsculo foi sem querer também. Quando eu estava criando a home no facebook, já existia um "Marginals" e o sistema não aceitava. Coloquei o "S" e rolou. A opção de manter assim foi estética, o nome virou uma espécie de logo.
Você acha que existe um cenário de música instrumental hoje? Onde o MarginalS se encaixa?
Cena ou cenário, acho que é a mesma coisa, mas se usa mais "cena"… Tenho ouvido muito que o MarginalS é "meio jazz mas com uma pegada de rock". Gosto disso. Não consigo enxergar exatamente uma cena instrumental X ou Y, mas, fazendo um recorte com "pegada rock", uns mais, outros menos, eu curto e acho que tem a ver com a gente o Burro Morto, Macaco Bong, M.Takara3, Hurtmold, Guizado e o PsychoJazz.
Pirataria X acessibilidade?
A gente é completamente a favor de disponibilizar tudo, mas nessa questão que você levantou, baixar um disco é só a ponta do iceberg. Historicamente, tirando alguns medalhões como Ivete Sangalo, Roberto Carlos, Xitãozinho e Xororó, entre outros desse quilate, artista nenhum ganhou dinheiro com venda de disco, o disco sempre pertenceu às gravadoras. Hoje, o disco é propriedade do artista, somos nós que decidimos o destino dele. Daí, você vê artistas como o MarginalS, o Metá Metá (que tem eu, Kiko Dinucci e Juçara Marçal), Criolo, Romulo Fróes, entre muitos outros, disponibilizando seus discos pra quem quiser baixar, enquanto outros artistas tão fazendo de tudo pra impedir isso, vide o caso da Ministra Ana de Hollanda. Ela tem os motivos dela. Independente duns trocados a mais ou a menos que viriam pros nossos bolsos, o acesso leva e traz muita coisa pra muita gente. Funciona quase que como um acordo de cavalheiros, você baixa o meu, eu baixo o seu, e tá tudo certo, todo mundo quer ouvir e ser ouvido. No lançamento do CD do Metá Metá em Curitiba tinha gente cantando todas as músicas do disco, e curiosamente, essas são as pessoas que compram o disco, elas valorizam o artista. Num texto de 25 anos atrás, O Hermano Vianna contava que o dono dum selo de música africana tentou lançar o Fela Kuti aqui no Brasil nos anos 80 e nenhuma gravadora se interessou. Isso é acessibilidade, você ter liberdade pra ouvir e pesquisar o que você quiser, apreciar música livremente, longe dos grilhões do jabá. 90% do que eu conheço de música africana, que é indispensável pra tudo que eu faço hoje, é graças a internet. Da mesma forma, as coisas que a gente faz chegam com muito mais rapidez ao público e com uma abrangência enorme, que é muito favorável. O cara que baixa música em casa é o mesmo cara que há um tempo atrás, copiava um vinil ou CD numa fitinha cassete. A proporção disso hoje em dia é infinitamente maior, mas esse cara só quer ouvir música. Pirataria é outra coisa... Pirata é quem lucra com essa "transação". Você não paga pro artista, você não paga o download pro dono do site, mas o provedor de acesso você paga… Vixi, que esse papo vai longe…
Não tem capa, é? ...E qual é o nome do disco?
Tem capa sim, é essa foto da gente jogando bocha, mas não tem nome. No arquivo está como (disco sem nome), talvez esse seja o nome. Na real, muita gente simplesmente diz que é o disco do MarginalS, algumas pessoas estão chamando de "o disco da bocha" - isso eu acho legal, tipo Beatles, que tem o "álbum branco", saca? Hehe... Mas a idéia por trás disso é não induzir a audição do disco, por esse mesmo motivo, as faixas também não tem nomes, apenas indicações, "prólogo", "parte 1", etc… que servem meramente pra formalizar o começo e fim de cada idéia musical que apareceu, mas, ouvindo do começo ao fim, é imperceptível. É muito comum termos feedbacks completamente diferentes do público e a gente gosta disso. Tem gente que lembra de coisas da infância; uns falam que não pensam em nada, que rola um transe; uma vez, uma amiga disse que durante um set do MarginalS teve um insight de como resolver um pepino no escritório. Isso, pra gente, é muito mais importante do que se tivesse alguém prestando atenção em escalas, harmonias, quais pedais eu uso e quando. Queremos dialogar com o nosso tempo, com a cidade e com as pessoas. Não quero ser dissecado por estudantes de música nem virar matéria de faculdade.

2011 MarginalS (Disco sem Nome) ou (Disco da Bocha)

2. Parte 1, parte 1
3. Parte 1, parte 2
4. Parte 1, parte 3
5. Parte 1, parte 4
6. Intermissão, parte 1
7. Intermissão, parte 2
8. Parte 2, parte 1
9. Parte 2, parte 2
10. Parte 2, parte 3
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