‘Jacaretaguá’ é um álbum de guitarrista. O terceiro de Dillo Daraujo, que toca praticamente todos instrumentos, desde a já citada guitarra, violão, baixo, acordeon, teclados, mpc, talk-box, kaos-pad e ainda leva alguma percussão em algumas faixas, sem falar nos efeitos, scratchs e na cantoria. É um disco que desvela uma narrativa psicológica, revelando sonhos, delírios e visões. O próprio artista admite que “existe um fio condutor entre as faixas guiado pelo medo e desesperança até chegar à retomada, desaguando em ritmos, pulsos e terminando com ar de contentamento”.
O disco abre com ‘Antena de Bombril’, uma bela canção para estádios gigantes, com um final apoteótico de uma guitarra psicótica. Na sequência Dillo apresenta uma verve pop com as canções, ‘Grito na garrafa’ e ‘Novo sol’, com letra cheia de referências pop e poesia concreta, respectivamente. As letras de Dillo versam sobre temas cotidianos e mencionam referências atuais, como twitter, coca-cola, pay-per-view e FMI. Isso sem falar nas citações, que vão desde, “ctrl+z”, “O diabo veste Prada” e “Time is on my side” dos Rolling Stones. Cada canção conta sua história e tem suas linhas melódicas muito bem definidas, como várias tramas em pedaços, que juntas formam uma única peça. ‘W Kilombola’ versa contra a globalização e o capitalismo desenfreado, além de iniciar uma suíte que se estende por ‘Em cruz ilhada’, parceria com o jornalista José Carlos Vieira, uma canção de levantar o pó das estradas, e é encerrada por ‘Jabazinho’, um verdadeiro hino “rockenrou” contra a prática ilegal do “jabá” de algumas rádios comerciais. “Frito o que você fez com a MPB”, grita o cantor.
‘Jacaretaguá’ pode ser um disco de guitarrista, mas tem uma mistura muito eclética de diferentes influências guitarrísticas como Jeff Beck, Ernest Ranglin, Mestre Vieira, Richie Blackmore, entre outros. O título do álbum faz uma alusão à Baixada de Jacarepaguá, com a cidade-satélite Taguatinga, do Distrito Federal, ‘Jacaretaguá’. Há um momento de respirar na faixa instrumental que dá nome ao disco, um groove afrobeat contagiante. ‘Pesadelo master’ foi composta em parceria com outro músico brasiliense, César de Paula. Com um começo empolgante, quase discoteca, a letra se torna amarga para descrever o casamento, num encerramento climático com solo de blues.
Algumas participações especiais pontuam o álbum, como Túlio Lima na bateria, com Vinicius Correa assumindo as baquetas em uma das faixas, Igor Cabral e Dido Mariano no baixo, Richelmy Oliveira na percussão, Marcos Valadares no saxofone, Paulo Verissimo na voz e fazendo côro junto com Thais Fread e Paulo Ério. Gravado no estúdio Orbis por Igor Cabral, Felipe Araujo e Pedro Tavares. Mixado por Marcos Pagani. Com arte de Tiago Pezão.
Em ‘Plano marmita’, Dillo usa toda acidez para divisar classes sociais num apartheid social do Planalto Central, com um rock pesadão de riff pegajoso, tem ‘Baião da Penha’ do Gonzagão como música incidental. ‘Sessão de descarrego’ confirma que as tradições nordestinas estão sempre presentes na Capital da República. Mesmo sendo uma obra enxuta, o álbum ‘Jacaretaguá’ é um disco de camadas de sons. As canções são pontuadas por momentos e climas sobrepostos, quase como uma subdivisão em cada faixa. A narrativa que permeia o disco pode ser percebida como referência à diversos clássicos contemporâneos. ‘Tupi Guaraná’ é outro rock característico de Dillo, que encerra a obra com otimismo e boas intenções, estampadas na letra “e digo adeus se acaso for embora, vou sorrindo agora até quando eu voltar”. ‘Jacaretaguá’ é um disco que expõe o amadurecimento de um artista, como guitarrista, compositor, arranjador e produtor. Um veículo para o dedilhado diabólico de Dillo Daraujo. 2012 Jacaretaguá1. Antena de Bombril
2. Grito na garrafa
4. W Kilombola
5. Em cruz ilhada
6. Jabázinho
7. Jacaretaguá
8. Pesadelo máster
9. Plano marmita
10. Sessão do descarrego
11. Tupi Guaraná
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