3.25.2012

O EFEITO DAS CORES DE MAHMUNDI

Marcela Vale é Mahmundi – ela toca guitarra, bateria, sintetizadores e percussão, além de compor novos clássicos da música brasileira.

Mahmundi tomou o mundo dos downloads virtuais de assalto quando lançou, sem nenhum alarde, o primeiro single ‘Desaguar’. Composição dela que é um verdadeiro clássico moderno, com uma sonoridade retrô, meio oitentista, com uma modernidade de loops bem característicos dessa década (anos 10) desse Século XXI.

Em seguida veio ‘Calor do amor’, composta em parceria com Bruno Dias e Roberto Barrucho, que também reforça a ideia de timbres eletrônicos do início dos anos 80 (do Século passado).

Seguiu-se o lançamento do EP ‘Efeito das Cores’, com produção da própria Mahmundi, acompanhada por Lucas de Paiva e Lúcio Souza, apenas nas faixas ‘Desaguar’ e ‘Se assim quiser’ – cover de Arnaldo Antunes, que ganhou versão definitiva na voz clara e calma de Mahmundi, deixando a sensação de que foi ela quem gravou essa canção pela primeira vez.

Souza gravou teclados, baixo e sintetizadores nessas faixas, enquanto Paiva gravou teclados e sintetizadores nas canções restantes, mais o baixo de ‘Fotografe’ e ‘#089 {Felicidade}’. Felipe Vellozo foi quem gravou o baixo em ‘Calor do amor’ e ‘Quase sempre’.

A primeira audição do som de Mahmundi exala o frescor e alegria nos arranjos cheios de ousadia e boas referências, como à Fela Kuti na melodia eletrônica de ‘#089 {Felicidade}’. Bela descoberta foi o som dessa carioca, que aproveitou muito bem o período de trabalho na mesa de som do Circo Voador. Onde ela aproveitou para estruturar uma gama de timbres e definir sua sonoridade e estilos, trazendo um sopro de frescor à música brasileira.


2012 Efeito das Cores EP

1. Calor do amor
2. Fotografe
3. Se assim quiser
4. Quase sempre
5. Desaguar
6. #089 {Felicidade}

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3.18.2012

VOCÊ NÃO ERA KITSCH? ...POP? ...OU CULT?



Não sei dizer ao certo, se o disco do Felipe Cordeiro é pop, kitsch ou cult. Talvez seja as três coisas ao mesmo tempo.

É kitsch na forma como apresenta temas que parecem ter saído de um filme de Almodovar. O pop vem do jeito em que ele mistura a cumbia, merengue, carimbo, guitarrada e tecnobrega com letras populares e ritmos dançantes, que fariam dançar até um defunto. Enfim cult na forma como o disco emprega modernidade aos arranjos.

O disco abre com a seminal ‘Legal e ilegal’, que deixa impossível não curtir de imediato o som do cara. Quando ele explica o que combina com cada ritmo exemplificado na letra bem humorada, dedicada a Alípio Martins. Em ‘Lambada com farinha’, Felipe e Manoel Cordeiro misturam lambada, carimbo, guitarrada e surf-music com música clássica barroca.

‘Fanzine kitsch’ cita Nietzsche em um diálogo kitsch, sofisticado e distraído. ‘Café pequeno’ é uma mistura de reggae com merengue. ‘Conversa fora’ é um autêntico tecnobrega, electromelody ou qualquer desses rótulos para explicar essa nova onda paraense.

O carimbó ‘Fogo morena’ mistura esse ritmo com a sonoridade pop brasileira do início dos anos 80. ‘Fim de festa’ é uma guitarrada instrumental composta por Manoel Cordeiro, produtor de Belém e pai do cantor.

Felipe Cordeiro parece estar antenado com o cenário atual e permeia o disco ‘Kitsch Pop Cult’ com impecável bom gosto. O disco encerra com a bela ‘Historinha’.

2012 Kitsch Pop Cult

1. Legal e ilegal
2. Lambada com farinha
3. Fanzine kitsch
4. Café pequeno
5. Conversa fora
6. Dias quentes
7. Fogo morena
8. Fim de festa
9. Embaraço
10. Historinha

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3.11.2012

FODAM-SE BEM, FODAM-SE MAL, CAIAM DE BOCA NO MEU HALLS



E.M.I.C.I.D.A. lança mais uma canção, desta vez em homenagem às vítimas da truculência policial, agindo em defesa dos graúdos e poderosos. Como foi o caso da retirada dos moradores de Pinheirinho, em São José dos Campos, ou da desocupação da Cracolândia em São Paulo e como bem diz o jovem Leandro, “todas as quebradas devastadas pela ganância”.

No caso de Pinheirinho, a força policial distribuiu pontapés e bombas de gás lacrimogênio, não se importando com a presença de mulheres, crianças, idosos, deficientes e moradores inocentes. Na cracolândia, a mesma truculência foi aplicada para retirar os usuários da droga, que mais deviam ter sido reabilitados em algum programa social de recuperação de viciados.

Toda a bronca do E.M.I.C.I.D.A. é com a falta de políticas sociais votadas para uma parcela carente da população. Sinceramente, acho que ele pegou um pouco mais pesado, que devia... Mas a música foi feita para ser mesmo um soco no estômago, um tapa na cara ou um dedo na ferida de uma sociedade, que está cada vez mais ignorante e alheia ao que a cerca.

“O Brasil tem um histórico do povo ser colocado contra o povo e abraçar a causa da "elite": olha pro caso da USP, olha a favela do Moinho, a situação dos quilombolas, do MST, de todas as famílias sem ter onde morar... embora esta parcela da população seja gigantesca, a mídia faz com que o povo pense que são baderneiros. O que me assusta é a apatia das pessoas perante estas situações: você está assistindo o governo solucionar um problema de moradia com a Tropa de Choque agredindo mulher com criança de colo e acha que é isso que deve ser feito? Na hipótese mais bizarra, o Estado ainda estaria errado pela forma como trata as pessoas”, diz E.M.I.C.I.D.A..

Valeu E.M.I.C.I.D.A. pelo posicionamentoe engajamento! A faixa foi produzida por Renan Saman, com letra do próprio Leandro, lançada pelo Laboratório Fantasma.

#Dedonaferida

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3.04.2012

O DEUS QUE DEVASTA É O MESMO QUE TAMBÉM CURA


Com um disco autobiográfico, Lucas Santtana se supera em seu quinto álbum, ‘O Deus que Desvasta mas Também Cura’.

Este lançamento segue cheio de transgressões, derivadas do álbum anterior (‘Sem Nostalgia’ de 2009), mas com um recorte pop dos primeiros discos (‘Eletrobendodô’ e ‘Parada de Lucas’). É como um vislumbrar o passado, sem (nenhuma) nostalgia.

A faixa que dá nome ao álbum abre com a tradição característica dos arranjos do maestro Leitieres Leite e sua ‘Orkestra Rumpilezz’. ‘Músico’ é um electro-afrobeat, com participação especial de Curumin no mpc, CéU nos vocais, Gustavo Ruiz nas guitarras, Marcos Gerez no baixo, Maurício Fleury no sintetizador e Bruno Buarque na bateria, que também divide a produção com Santtana, além da participação de Rica Amabis, creditado como co-arranjador e integrante da ‘Orquestra Sinfônica de Lagos’, numa clara referência ao berço desse ritmo.

Em ‘Jogos madrugais’, Santtana remete à sonoridade de velhas canções como ‘Lycra-limão’ ou ‘Itapoã ano 2000’, mas também traz a tona ecos de ‘Who can say wich way’, num belo arranjo em parceria com Gilberto Monte. ‘É sempre bom lembrar’ é uma balada nos moldes de ‘Hold me in’ – também do já clássico ‘Sem Nostalgia’ – arranjada em parceria com Gui Amabis, integrando a ‘Camerata Impressionista Grifnória’, que também tem a clarineta de Luca Raelle, o vibrafone de Marcelo Lobato, baixo acústico de Kassin (que também toca sintetizador) e violoncelo de Hudson Lima.

‘Se pá ska S.P.’ e ‘Vamos andar pela cidade’ mantém elos de ligação com o álbum ‘3 Sessions in a Greenhouse’. A primeira tem participação especial da guitarra solo de Morotó Slim, enquanto a outra tem novamente Bruno Buarque nas baquetas. Mas as duas faixas têm o auxílio da ‘Rio Brass Ensemble’ – com Leandro Joaquim no trompete e Marco Serragrande no trombone – e ‘Double Pack System Brass Ensemble’ – com Guizado no trompete e Edy no trombone – respectivamente.

‘Ela é Belém’ anuncia o arranjo e programações eletrônicas de Gilberto Monte, na orquestra de um homem só, ‘Filarmônica de Hogwarts’. ‘Para onde irá essa noite?’ é um simples e efici-indie rock com final apoteótico, com baixo meloso de Ricardo Dias Gomes, piano Rhodes e Hammond de Lucas Vasconcelos, bateria de Marcelo Callado e guitarrinha frenética de Gustavo Benjão. Inclusive, essa mesma banda acompanha Lucas em quase todas faixas do disco, salvo as participações aqui mencionadas.

“É uma manhã de domingo”, prega a canção composta entre pai e filho, Lucas e Josué. “Cadê Joaquim?”... Em ‘Dia de furar onda no mar’, Santtana posiciona na beira da praia uma exaltação à amizade na infância, pela óptica de Josué. “Convida o Matheus?”.... O menino Josué não é estreante no mundo das artes, visto que já compôs o ‘Funk do Ninja Bebê’ e está prestes a lançar o livro ‘ABC do Josué’ – onde define palavras como contemporâneo, incidência, almejar e réveillon – do qual o pai retirou essas mesmas definições para compor parte da letra.

‘O Paladino e seu cavalo Altar’ é a versão de Lucas Santtana para ‘This is not the fire’ da banda inglesa ‘My Tiger My Timing’, que faz um pop-new-wave contemporâneo. A faixa é herdeira absoluta d’O violão de Mário Bros’, numa ode aos vídeo-games. Inclusive Santtana utiliza-se de samples de alguns jogos antigos.

‘O Deus que Devasta mas Também Cura’ é um disco ousado, no qual Santtana mistura música erudita, games, barulhinhos e diversas programações eletrônicas em vários gêneros e ritmos, que permeiam toda obra.

O mote do disco é o momento atual de Lucas Santtana, temas como saudades, amores, dores, vícios e prazeres são pontuados pelas faixas dessa obra coesa. É impossível não ouvir o disco como uma peça única, desde a primeira canção à ultima. Este é ‘O Deus que Devasta mas Também Cura’.

2012 O Deus que Devasta mas Também Cura

1. O Deus que devasta mas também cura
2. Músico
3. Jogos madrugais
4. É sempre bom se lembrar
5. Se pá ska S.P.
6. Ela é Belém
7. Vamos andar pela cidade
8. Pra onde irá essa noite?
9. Dia de furar onda no mar (para Josué, Matheus e Joaquim)
10. O Paladino e seu cavalo Altar (This is not the Fire)

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