Siba lançou o novo álbum, que marca seu retorno às
origens. Digo origens, porque todo garoto começa tocando rock, montando uma
banda com os vizinhos ou colegas de escola. Mas Siba seguiu o inverso do caminho
de todo garoto roqueiro.
Ele empunhou uma rabeca e viola e mergulhou fundo nas
raízes tradicionais, buscando na Mata Norte de Pernambuco, a inspiração para
virar um grande compositor e lançar grandes discos, com ‘Mestre Ambrósio’,
Roberto Corrêa, Barachinha e com a ‘Fuloresta’.
Neste disco, ‘Avante’, ele empunhou uma guitarra, há
muito tempo esquecida num canto, e transpôs todo universo de sua discografia
para o concreto da grande cidade. Como um Dom Quixote pós-moderno, que brinca no
carnaval e usa celular, ele trava enormes batalhas contra ciclopes, dragões, lobos-maus
e discos voadores – numa orgia vibrafônica.
A poesia onírica das canções soa como letras antigas de
algum soneto épico, que reflete às lutas do homem contra si mesmo, contra a
natureza, às dores de amores, ao passado e ao futuro.
SIBA - Ariana from DobleChapa on Vimeo.
Pra dar o salto de ‘Avante’, foi necessário reunir um tanto de todos que já fui. Momentos distintos de vida. Recontar para mim mesmo minha história pessoal, essa que construímos dia a dia, reunindo, descartando, esquecendo, recriando e mesmo inventando.
Nenhum mapa, algum mapa. Mas qual?
Musical, poético, geográfico, literário, místico,
racional? Qual o ponto de partida? A primeira audição do ‘Método Tufo...’de
Catatau, logo após a finalização de ‘Toda Vez Que eu Dou um Passo…’? Ali me vi
pela primeira vez pensando que precisaria reaprender a escrever e cantar pra
dar conta da complexidade de minha vida pessoal, antes que – Mute - perdesse a
voz.
Muito antes, 20 anos antes, o rock havia morrido pra mim
e eu iniciava uma peregrinação pela Mata Norte pernambucana - onde? -
descobrindo aos poucos minha própria voz entre tantas obviedades invisíveis.
Punk rock baque solto.
De volta ao mapa, passado mais próximo - o verso preso:
Reaprender a tocar um instrumento abandonado há tantos anos foi tarefa difícil e
fatalmente inacabada, que me sacudiu ao chão duro e frio dividido entre a musa
ou a música. A Poesia, dama ciumenta e exigente, se afastou silenciosamente deixando
em seu lugar o vazio da falta de convicção para escrever da única forma que eu
sabia. Reaprendizados sobrepostos, fui aos poucos reunindo os cacos, colando o
espelho que devolve os fragmentos sobreviventes a meus tantos esquecimentos de
mim mesmo-sem-moldura, pedaços ainda podem ser colados, cair...
O mapa de Avante teria que ter pistas confusas
embaralhando Hendrix, Lemmy, Ivanildo Vila Nova e Manoel Chudu, Zé Galdino,
Barachinha, o Sundiata do Mali, Franco, o Congo, Poemas Suspensos, Canções de
repentistas na voz de Antônio Alves, Voltando a Minha Terra de Severino
Feitosa, Super Rail Band, Thelonious Monk, Robab Afegão, Star Number One de Dakar, Biu Roque, Bembeya
Jazz National, Jimmy Page, Os Solitários de Nazaré da Mata, Michele Melo
cantando “essa noite eu vou ser toda sua…”, O Incandescente de Serres, a viagem
de Ulisses, Cancão, rock Touareg, Jack White, Kasai All Stars, Ryad Al Sumbati,
Cream, Menelik Wesnatcheu, meu pai assobiando de manhã cedo.
Outra coisa: Se ao abandonar-me à musa, anos antes, havia
me feito experimentar a completude numa pequena cidade de 30 mil habitantes,
ceder à música me sacudiu novamente na fragmentação da estrada. Assim, ‘Avante’
tem um pouco de Rio de Janeiro, Dakar, Recife, Nazaré, São Paulo, Curitiba,
Praia dos Carneiros, Teresópolis, Campina Grande, além de sombras de lugares
que nunca fui: Kinshasa, as montanhas do Hindu Kush…
Foi gravado e mixado no estúdio Totem/SP, entre o final
de 2010 e meados de 2011 por Yuri Kalil e produzido por Fernando Catatau,
comigo ajudando e, às vezes, atrapalhando também. Léo Gervázio toca a tuba, elo
de ligação com a ‘Fuloresta’ e a música de rua do Recife. Antônio Loureiro toca
teclados e um vibrafone que muito me ajudou na aproximação com a música do
Congo que tanto ouvi nesses anos de gestação desse trabalho. Samuel Fraga toca
a bateria. Os visitantes são Teco Cardoso e Lira. Catatau faz o solo de
guitarra em ‘Qasida’. Ao vivo, o baterista é Serginho Machado.
‘Avante’ tem o patrocínio da Petrobras, através da
seleção pública do Programa Petrobras Cultural. Este projeto foi contemplado com
o Prêmio de Apoio à Gravação de Música Popular – Funarte.
Siba – Janeiro, 2012.
"Siba - Nos Balés da Tormenta" from DobleChapa on Vimeo.
2011 Avante
1. Preparando o salto
2. Brisa
3. Ariana
4. Cantando ciranda na beira do mar
5. A bagaceira
6. A canoa furada
7. Mute
8. Um verso preso
9. Avante
10. Qasida
11. Bravura e brilho
6 comentários:
Não acompanhei os trabalhos anteriores de Siba com a Fuloresta, mas conheço o trabalho dele com o Mestre Ambrosio e por eu ser de Recife sei que seu trabalho com musica começou com Metal. Mas esse disco por vezes me emocionou muito , musicas como Arina ,Avante e Bravura e Brilho essa em especial que quando a escutei me fez chorar por ter feito muito tempo que não via meu filho de oito anos e que veio passar o natal e fim de ano comigo. Parabens Siba e muito obrigado.
Depois de um ano que trouxe excelentes trabalhos de artistas pernambucanos, como Eddie (Veraneio), Lenine (Chão), Karina Buhr (Longe de Onde), Junio Barreto (Setembro) Mundo Livre S/A, entre outros, que maravilha começar 2012 com esse belo lançamento do genial Siba. E que nesse ano venha novo trabalho da Nação Zumbi também... Valeu demais, Ovo.
Pernambuco é foda mesmo.
Está sendo um verdadeiro Tsumangue, como estão chamando por aí.
Ahh, 2012 tem o maluco beleza do Otto tb.
o rancor!!!
o rancor!!!
rancor!!!
Ahuahuahuahuahuahuhaaua
Se brincar, Bruno, pernambucano fica até orgulhoso de um possível rancor. Tipo: "Somos os mais rancorosos do país!" rsrsrsrrs
PS: Ouvi o disco do Siba aí no soundcloud que colocastes.
Tá bonitão mesmo.
Abraço
hehehehehe.
acho errado a postura do fora do eixo (pra mim é uma postura facista - nao gosto de nada autoritário).
pernambuco fomentou bastante essa cena - junto com festivais do estado e movimentos de artistas (mangue-bit etc).
me lembro de quando só se viam de pernambuco os blocos de rua na época do carnaval e poucos artistas como alceu valença e geraldo azevedo...
foram 10 anos de fomento à cultura para tornar o estado como é hoje.
esse exemplo devia ser seguido por todos estados do país.
abs, Bruno
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