3.27.2011

A VERDADEIRA VOZ DE HIROMI QUANDO ELA SORRI

Fazia tempo que Hiromi Uehara não tocava acompanhada de um trio clássico de jazz. Talvez tenha sido a experiência com Stanley Clarke, no ano passado, que a tenha reapoximado deste formato, piano baixo e bateria.

Para este disco ela convidou o baixista Anthony Jackson – ele já tocou com Chick Corea e Steely Dan – e o bateirista Simon Phillips – que já tocou com David Gilmour e Jack Bruce – e chamou de ‘The Trio Project’.

Com essa formação ela gravou o ‘Voice’ – mais um maravilhoso adendo à sua discografia. “Quando toco música, eu percebo que isso realmente filtra as emoções”, comenta Hiromi. “Eu chamei esse album de ‘Voice’ (voz em ingles) porque eu acredito que as vozes das pessoas são expressadas pelas emoções. Não é aquilo que você fala. Mas aquilo que tem no coração. Talvez alguma coisa ainda a ser dita. Quem sabe nunca diga. Mas é sua verdadeira voz”.

O disco tem nove faixas e como sempre é o melhor álbum da carreira dessa japonesa que toca piano como homem. Quero dizer apenas, que ela tem uma pegada forte nas teclas, que parece um ser-masculino-bruto-forte-e-dominante. Ela realmente domina todas as faixas, até mesmo quando faz participação em disco dos outros – como foi o caso com Stanley Clarke, em ‘Jazz in the Garden’ – ela arrepia e rouba totalmente a cena.

O disco começa com ‘Voice’, onde o trio clássico de jazz mostra toda potência na bateria de Phillips e no baixo de Jackson, mas é no piano de Hiromi que a porca torce o rabo, com perdão do ‘trocadaleo’. Na faixa seguinte, ‘Flashback’, você pode sentir toda a pressão do bumbo de Phillips, um complemento perfeito para as estripulias de Hiromi. Esse novo trio é clássico demais.

‘Now or never’ tem até um certo eco dos sintetizadores de ‘Kung-fu world champion'. Em ‘Temptation’, Hiromi convida o ouvinte a decidir se “é doce ou amarga, essa tentação?”. ‘Labyrinth’ dá grande destaque às cordas de Jackson, que forma um belo dueto com as teclas de Hiromi. Que sufoco é tentar acompanhar essa garota. Jackson no baixo e Phillips na bateria formam um belo trio com Hiromi.

‘Desire’ e ‘Desolution’ quase se complementam de tão em sincronia no trabalho de Hiromi. Destaque para o baixo e bateria envolventes. Entre as duas faixas está a canção de piano solo, ‘Haze’, em que Hiromi mostra uma delicadeza impar, de arrepiar, mas sem deixar de embasbacar o ouvinte com seus improvisos que parecem te levar n’algum lugar, para em seguida lhe puxar o tapete e dar um nó na cabeça...

O disco encerra com a ‘Sonata nº 8’ de Beethoven, completamente irreconhecível como muito bem faz Hiromi – a versão de ‘Caravan’ dela é a versão mais rockenrou que já ouvi – com ela a canção de Beethoven ganhou contornos de um blues irresistível.

A idéia desse petardo era mesmo expressar emoções humanas sem o auxílio de letra alguma. Hiromi não precisa falar nada para hipnotizar – ela só precisa tocar piano e improvisar...

2011 Voice (with The Trio Project)

1. Voice
2. Flashback
3. Now or never
4. Temptation
5. Labyrinth
6. Desire
7. Haze
8. Delusion
9. Beethoven’s piano sonata no. 8 (Pathetique)

3.20.2011

VOCÊ VAI TER UM DERRAME AGORA MESMO



Sempre acreditei que a primeira faixa de qualquer álbum deve ser muito bem considerada. É preciso prender o ouvinte no primeiro acorde. A primeira canção precisa ser suficientemente forte para levar o espectador à próxima faixa.

Mas também a música número um, não pode ser a melhor faixa do disco. Basta levar à próxima audição. Posso citar alguns exemplos, como o grande clássico do Led Zeppelin, o volume ‘II’, que iniciava com ‘Whole lotta love’, ou ‘Moving Pictures’ do Rush, que começava com ‘Tom Sawyer’.

O ‘The Strokes’ é uma banda formada por Julian Casablancas nos vocais, Nick Valensi na guitarra, Albert Hammond Jr. na outra guitarra, Nikolai Frature no baixo e Fabrizio Moretti na bateria. Eles lançaram o álbum de estréia em 2000, ‘Is This It’, que foi um grande sucesso e transformou a banda nos maiores expoentes do rock indie.

Depois eles lançaram ‘Room of Fire’ em 2003 e ‘First Impressions of Earth’ em 2006, sem conseguirem alcançar o brilhantismo do primeiro petardo. Mas se você nunca ouviu falar deles, provavelmente esteve congelado criogenicamente ou em alguma ilha deserta nos últimos 10 anos...

Nesses últimos anos, os integrantes da banda seguiram carreiras solo, participações em discos de outros artistas. Casablancas gravou o disco solo em 2009, `Phrazes for the Young`, e fez um monte de participações em discos de gente como Danger Mouse e Sparklehorse,`Queens of the Stone Age` e Santogold, entre outros.

Nick Valensi também não ficou parado, ele gravou guitarra com Devendra Banhart e formou parceria junto com Sia, cantora pop australiana. Albert Hammond Jr. lançou dois álbuns, `Yours to Keep` em 2006 e `¿Cómo Te Llama?` em 2008. Nikolai Frature lançou o projeto `Nickel Eye` e gravou o disco `The Time of the Assassins` em 2009. Fabrizio Moretti aproveitou a folga para gravar com Rodrigo Amarante e Binki Shapiro, o `Little Joy`.

O disco mais recente do ‘The Strokes’ começa com ‘Machu Pichu’, um canção grudenta que você não consegue ficar sem cantar, mesmo sem saber a letra, no melhor estilo “poreporeporepopein...” e assim por diante. O álbum segue com ‘Under cover of darkness’, o single e possível grande hit do ano. Também é impossível não cantar junto o refrão.

Depois desse começo de disco sensacional é impossível não curtir o álbum inteiro. ‘Two kinds of hapiness’ traz uma seleção de riffs que se cruzam e se repentem formando um paredão de som no melhor estilo Strokes. A banda faz uma ponte bem sucedida entre os timbres da década de 80 com a eletrônica dos anos 90.

Esse disco pode ser considerado o melhor álbum da banda desde o disco de estréia. Parece que o hiato de quase cinco anos fez bem para o grupo, que tem na sua origem um descendente russo, Nikolai, o latino Hammond, basco Casablancas, Valensi que é judeu e Moretti que nasceu no Brasil.

2011 Angle

1. Machu Pichu
2. Under cover of darkness
3. Two kinds of happiness
4. You’re so right
5. Taken for a fool
6. Games
7. Call me back
8. Gratisfaction
9. Metabolism
10. Life is simple in the moonlight

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3.13.2011

O DIA EM QUE O TIO SAM BOTOU BEBOP COM O SAMBA, pegou no tamborim, no pandeiro e na zabumba e entendeu que o samba não é rumba

Dizzy Gillespie é uma lenda do jazz norte-americano, um dos criadores do bebop e deixou canções momoráveis como ‘Salt peanuts’ e ‘A night in Tunisia’.

Durante uma de suas passagens pelo Brasil, Dizzy tinha a idéia de gravar um disco com uma bateria de Escola de Samba, mas diante dificuldades de colocar essa turma toda num estúdio, optou por uma banda que tocasse o ritmo. A escolha foi acertada, Dizzy gravou o disco com o Trio Mocotó.

Depois de três dias no Estúdio Eldorado, João Parahyba (percussão), Nereu Gargalho (pandeiro) e Fritz Escovão (cuíca) puderam se gabar por ter tocado com o pai do bebop. Mas não por muito tempo, porque as gravações jamais viram a luz do dia. Dizzy voltou para casa com todo material embaixo do braço e perdeu as masters.

Toda essa história já havia virado lenda do mercado brasileiro. Haviam testemunhas oculares, mas prova nenhuma dessas gravações. Até que um velho amigo de Dizzy, o produtor suíço Jacques Muyal, da LaserSwing Productions, encontrou o material e resolveu lançá-lo em disco.

Rezava a lenda que Dizzy fazia sessões intermináveis de meditação no chão do estúdio e que Parahyba havia se re-encontrado com Dizzy num festival de jazz em Estocolmo e o trumpetista não se lembrava das gravações.

Essas gravações, que além do Trio Mocotó, também contaram com a guitarra de Al Gafa, o baixo de Earl May, a bateria de Mickey Roker e os vocais de Mary Stallings em 'Evil gal Blues', dueto com Dizzy.

O disco abre com ‘Samba’ que pode lembrar um pouco o velho clássico samba-rock, ‘Coqueiro verde’, tem uma levada sensacional que seria impossível sem o suingue do Trio Mocotó. Além de seguir uma linha iniciada com ‘Winter samba’ que havia sido gravada em 1966.

A faixa seguinte começa com um inconfundível grito de guerra do Trio Mocotó “vamô s’imbora uau!”, ‘The truth’ (‘a verdade’ em inglês). Pois o álbum perdido de Dizzy Gillespie com o Trio Mocotó é mesmo verdade... ‘Dizzy’s shout (Brazilian improvisation) é bossa nova com Dizzy no trumpete – e o nome já diz tudo.

‘Behind the moonbean’ é composição do guitarrista Al Gafa, mas não passa de uma bela colagem de vários riffs da música brasileira. Será que é o primeiro mash-up de que se tem notícia? Talvez não...

A última faixa é uma pérola que tem toda a malemolência de Parahyba, Gargalo e Escovão, que brilha com seus solos de cuíca endiabrada duelando com o trumpete “Gillerspiano”. Putaqueospariram!!! Anos depois, Dizzy gravaria o disco ‘Dizzy’s Party’, em 1976, com o percussionista brasileiro Paulinho da Costa, que também fez um maravilhoso solo de cuíca. Mas essa faixa ‘Rocking with Trio Mocotó’, é um manifesto da cuíca no jazz norte-americano.

"Só ponho bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim, quando ele pegar no pandeiro e no zabumba, quando ele entender que o samba não é rumba", Jackson do Pandeiro e Gordurinha.

2009 Dizzy Gillespie no Brasil (& Trio Mocotó)

1. Samba
2. The truth
3. Dizzy’s shout (Brazilian improvisation)
4. Evil gal blues
5. Behind the moonbean
6. Rocking with Mocotó

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3.06.2011

ENQUANTO MINHA IMAGINAÇÃO COMPOR INSANIDADES DOMINO ARTE

Leandro Roque se tornou E.M.I.C.I.D.A. por tanto massacrar seus oponentes nas batalhas de MCs. O nome é uma junção de homicídio com MC (que significa mestre de cerimônia e comumente utilizada no cenário hip-hop).

E.M.I.C.I.D.A. fez seu nome nas rinhas de MCs, mas foi com o lançamento da primeira mixtape em 2009, ‘Pra Quem já Mordeu um Cachorro por Comida até que eu Cheguei Longe’, que alcançou espaço maior no resto do país. Essa mixtape era quase uma coletânea do início da carreira desse rapper paulistano, mas já continha clássicos antológicos como ‘Só isso’e ‘Triunfo’.




No ano passado, E.M.I.C.I.D.A. lançou o EP ‘Sua Mina Ouve meu Rep Também’ que já trazia composições maduras, mas ainda assim se parecia muito com sobras de estúdio do trabalho anterior. Mas no segundo semestre de 2010, E.M.I.C.I.D.A. lançou outra mixtape, ‘Emicidio’, na qual conta sua história de vida com rimas fortes e grooves com pegadas irresistíveis.

‘Emicidio’ já pode ser considerado um dos discos de rap mais importantes da década, junto com grandes clássicos dos Racionais MCs, Kamau, MV Bill, entre outros. Nessa mixtape E.M.I.C.I.D.A. faz uma crônica pessoal de suas aspirações, anseios e dúvidas. Em ‘Cê lá faz idéia’, E.M.I.C.I.D.A. mostra a realidade cruel da periferia e do preconceito racial, social etc, em rimas contundentes. Já ‘Rinha (já ouviu falar?)’, ele se lembra dos bons tempos das batalhas de MCs, assim como ‘Santa Cruz’ e ‘De onde cê vem?!’.




‘Então toma’ é uma crônica do cotidiano, onde E.M.I.C.I.D.A. lança suas rimas rápidas e fala de tudo um pouco, desde o vestido da Geisi ao seriado ‘Lost’. ‘Emicidio’, que também havia sido lançada como single, lembra da dificuldade que todo MC tem pra vencer na vida, seja em coisas simples como levar leite para casa...

Em ‘Velhos amigos’, E.M.I.C.I.D.A. se lembra dos grandes companheiros, ‘Rua Augusta’ ele faz rima sobre a profissão mais antiga do mundo, e ‘I love quebrada’ é um hino de amor à periferia. ‘Eu gosto dela’ mostra toda a criatividade de E.M.I.C.I.D.A., ao descrever uma namorada, amante, esposa, ou seja “uma mulher durona”. ‘Só mais uma noite’é uma canção popular, que poderia muito bem estar em qualquer trilha da novela, mas é uma crítica social contundente.




E.M.I.C.I.D.A. fala com carinho de toda família em ‘Um final de semana’, lembrando que na correria para fazer sucesso como MC, ele deixou em casa várias pessoas com as quais preferia estar naquele momento. ‘Avua besouro’ fazia parte do EP, lançado no início de 2010, como bônus track, “cês esperava que eu roubasse tudo, menos a cena”.

Na última faixa do disco, ‘Beira de piscina’, ele faz uma carta de amor às pessoas que ama e do esforço que faz para “dar outro sentido pra frase, tinha que ser preto”. Mas ele também se lembra do sucesso que faz e da dificuldade de se manter fiel às convicções sem se afrouxar com o conforto da primeira classe.

Não bastante todo sucesso que faz, E.M.I.C.I.D.A. já é considerado um dos grandes representantes do rap nessa década. Mas ele não para. Segue produzindo suas rimas e faixas. A última foi lançada em single recente – o que pode significar que no final do ano teremos mais uma grande mixtape – em parceria com Mart’nália e produção caprichosa.




Lançado pelo Laboratório Fantasma, esse single tem letra de E.M.I.C.I.D.A., batida de Damien Seth, Marlon Sete e Altair Martins nos metais, Kuko na percussão, Nilo Romero no baixo, Evandro Fioti nos vocais e Carlinhos 7 Cordas no violão. A produção é de Damien Seth e Nilo Romero.

2011 Quarta-Feira (Single)

1. Quero ver quarta-feira (ft. Mart’nália)

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2010 Emicidio

1. E agora?
2. Cê lá faz idéia
3. Rinha (já ouviu falar?)
4. Isso não pode se perder
5. Santo Amaro da purificação
6. Então toma!
7. Emicidio
8. Santa Cruz
9. Velhos amigos
10. Rua Augusta
11 I love quebrada
12. Eu gosto dela
13. Só mais uma noite
14. De onde cê vem?!
15. Um final de semana
16. Novo nego veio
17. Avua besouro
18. Beira de piscina

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2010 Sua Mina Ouve meu Rep Também (EP)

1. Intro
2. Quer saber
3. Chegaí
4. Vacilão
5. Volúpia
6. Não vejo a hora
7. Avua besouro

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2009 Pra Quem já Mordeu um Cachorro por Comida até que eu Cheguei Longe

1. Intro (é necessário voltar ao começo) (ft. Projeto Nave)
2. E.M.I.C.I.D.A. (adoooro)
3. Sozim
4. Rotina
5. Pra mim... (isso é viver)
6. Ainda ontem (ft. Rashid, Projota & Fióti)
7. Pra não ter tempo ruim (ft. Mariana Timbó)
8. Só isso
9. Vô buscá minha fulô
10. Ela diz
11. Por Deus por favor
12. Preciso (melô do Mundiko)
13. A cada vento (ft. Paulo)
14. Sei lá... (ft. Rael da Rima)
15. Cidadão
16. Soldado sem bandeira
17. Vai ser rimando
18. Um, dois, três, quatro
19. Fica mais um pouco amor
20. Outras palavras (ft. Rael da Rima)
21. Hey Rap!
22. Essa é pra vc Primo
23. Triunfo
24. Eu tô bem (ft. Daniel Cohen)
25. Ooorra... (a que deu nome a mix tape)

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