Cantor Siba apresenta
universo expandido das tradições do maracatu de rua pernambucano e
proporciona o incrível dialogo entre o rural e o urbano.
Em seu segundo álbum solo, Siba não é nenhum iniciante já que gravou outros sete discos em outros projetos. Foram três com a banda 'Mestre Ambrósio', que no meio do 'mangue-bit' seguia caminho inverso voltando às raízes do maracatu pernambucano. Nos outros quatro álbuns, Siba seguia o mesmo rumo iniciado no princípio – dois discos com 'A Fuloresta do Samba' e um com Barachinha e outro com Roberto Corrêa.
Siba parecia fadado a
prestigiar com a rabeca o seu peculiar talento de inovar nas
narrativas ritimicas, não fosse o nascimento de 'Avante' – o
primeiro álbum solo, que trazia todas as tradições da Mata Norte e
do carnaval de rua pernambucano, mas tudo misturado com a vivências
do cantor. Foi quando ele popularizou o som ao proporcionar o diálogo
da guitarra com a tuba. Dessa forma, todos outros álbuns convergiram
para este ponto como fosse premeditado.
'De Baile Solto'
carrega todo um diálogo iniciado em 'Avante', que por sua vez com
todos precedentes. O que Siba conseguiu com essa obra, não pode ser
mensurada hoje sem levar em conta os anos passados. No carnaval de
2014, Siba defendeu a tradição dos ensaios de maracatu de rua,
contra a interrupção as duas da manhã, da mesma forma como
defendeu o Complexo Estelita de se tornar um empreendimento
imobiliário.
É dessa forma que o
álbum 'De Baque Solto' inicia – com a mais poderosa e bela canção
de protesto de todos os tempos. Esqueça o Vandré ou o Buarque e
ouça o Siba em 'Marcha macia'. Com versos poderosos Siba profetiza,
“acorda, amigo, o boato era verdade... A nova ordem tomou conta da
cidade. É bom pensar em dar no pé, quem não se agrade. Sendo você,
eu me acomodaria...”. Putaqueopariuuuu... Isso cabe pro
#ocupeestelita, #wallstreet, #lovewins e tudo mais #### que puderem
imaginar...
'Gavião' havia sido
gravada anteriormente pelo 'Mestre Ambrósio' e tinha uma pegada mais
animada, mas essa nova gravação ressalta a narrativa sobre a ave de
rapina. 'Mel tamarindo' mostra definitivamente que “quem manda é a
tuba”, como diz o próprio Siba. 'Três desenhos' demonstra
exuberante arranjo com xilofones em contraponto com a tuba,
desenhando a melodia com fosse uma cobra, labaredas e “milhares de
esqueletos”.
Em 'Três Carmelitas'
Siba volta a lembrar da infância evocando o presente. Coisa mais
bela de se ouvir. 'Quem é ninguém' trás de volta a veia política
de Siba, quando evoca a sociedade atual. 'De baile solto' mostra a
única canção instrumental que denota uma montanha russa de emoções
ao ouvinte atento. 'A jarra e a aranha' brinca com aliterações e
ditados trava-línguas. Impossível de cantar junto com Siba.
Outra canção épica
de extrema beleza é 'O inimigo dorme', que parece continuação
direta de 'Bravura e brilho'. 'Meu balão vai voar' encerra bem o
álbum com um solo fenomenal de Siba – coisa inexplicável de tão
boa... Deixa um gostinho de quero mais...
O fato é que 'De Baile
Solto' é um disco épico. Um disco que dialoga com toda a obra
anterior do cantor. Um álbum que pode ser o segundo de uma trilogia,
iniciada em 'Avante'... Uma obra ímpar. Inquestionável.
2015 De Baile Solto
1. Marcha macia
2. Gavião
3. Mel tamarindo
4. Três desenhos
5. Três Carmelitas
6. Quem é ninguém
7. De baile solto
8. A jarra e a aranha
9. O inimigo dorme
10. Meu balão vai voar
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