O disco do Vavá é uma britadeira semântica poetética de influências que se confundem entre si, dó, cá e lá. Se no primeiro álbum, a preocupação era demonstrar essas influências pelos arranjos e orquestrações estudiólogas, nesse segundo exemplar a idéia é a mesma, mas com enfoque nas linhas das palavras escritas.
Os arranjos de Vavá e sua banda, o Toró de Palpite, permitem-se a poucas participações especiais. Com a banda enxuta, um power-trio de responsa – baixo e voz do próprio Vavá, guitarra do João Ferreira e bateria do Tiago Cunha (o Leander Motta tocou bateria em quase todas as faixas e o Barata em algumas outras) – apresenta idéias desde “O começo” do homem em “O trono” à uma visita ao dentista em “Da cárie”.
O disco abre com uma levada groove com Vavá cantando um pé-na-bunda amoroso, que se transforma numa explosão de riff roqueiro e matador, com legítimo sotaque brasiliense. Mas porque diabos o nome da canção foi “Macarrão com molho”? Esse é o Vavá. Desse jeito mesmo. Às vezes prolixo, reverente e referente, mas na maioria do tempo curto e grosso.
A faixa seguinte, “O sistema é bruto”, é um reggae dub-style com a voz da Indiana Nomma, descrevendo o mesmo pé-na-bunda amoroso, sob a visão feminina. Essa música traça um panorama bem parecido ao descrito por Chico Buarque em “Olhos nos olhos”, sob a visão de uma mulher moderna. Um belo esporro!!! Que fique bem claro que as influências agora são transmitidas nas entrelinhas, como em “seu corpo eu larguei pra vida e as lembranças mandei pro esgoto, junto às mágoas corrosivas”.
A faixa-título, “O papo do bicho”, é um ragga, que encontra um repente, que encontra um axé, que encontra um muffin – que é bolinho em inglês – só para se ter uma noção do que rola nas entrelinhas e na cabeça do Vavá, que tem algum cabelo e muitas idéias que lhe sobram. “Tota-tola” é a canção mais comercial e anti-comercial que já vi. Digo comercial no sentido de que devia ser o jingle oficial de todos os tempos, não só da Coca-cola, mas também do Ministério da Saúde, do PCC e até do Greenpeace ou WWF, ou coisa parecida.
“Arará” é um xote? É um reggae? Pelo toque da guitarra é um reggae, mas se isso não é um xote... Não sei, não... Mas o que importa é a letra que diz “a minha como há muito não fazia – o arará – e fez a minha, mas não fazia”. “Ai ai ai Niemai” foi inspirada no arquiteto que inventou as esquinas de Brasília, mas também quer falar do prato tradicional da culinária do inferno. Mas eu é que não vou comer isso aqui!
No esquema piscou-perdeu, você ouve várias vinhetas durante todo disco, e são elas que pontuam a intenção do disco. Quando percebi “Resolver” passou. Em “Mimo”, Vavá encerra o disco como mestre da bateria de caixinhas de fósforos e maestro do baixo. Um reggae-samba que é quase uma canção de mimar, seguida por mais uma breve vinheta, em “Poemeta distintiva”.
Vavá Afiouni e o Toró de Palpite fazem um rock que não é rock e que mistura reggae, com xote, com ragga, com groove e muito baixo. Mas ainda que seja um disco simples, é cheio de nuances e pequenos detalhes que até mesmo a inclusão de uma canção de Noel Rosa faz sentido no final das contas. Através das linhas que dizem “há de viver eternamente sendo escrava dessa gente que cultiva a hipocrisia”.
2010 O Papo do BichoOs arranjos de Vavá e sua banda, o Toró de Palpite, permitem-se a poucas participações especiais. Com a banda enxuta, um power-trio de responsa – baixo e voz do próprio Vavá, guitarra do João Ferreira e bateria do Tiago Cunha (o Leander Motta tocou bateria em quase todas as faixas e o Barata em algumas outras) – apresenta idéias desde “O começo” do homem em “O trono” à uma visita ao dentista em “Da cárie”.
O disco abre com uma levada groove com Vavá cantando um pé-na-bunda amoroso, que se transforma numa explosão de riff roqueiro e matador, com legítimo sotaque brasiliense. Mas porque diabos o nome da canção foi “Macarrão com molho”? Esse é o Vavá. Desse jeito mesmo. Às vezes prolixo, reverente e referente, mas na maioria do tempo curto e grosso.
A faixa seguinte, “O sistema é bruto”, é um reggae dub-style com a voz da Indiana Nomma, descrevendo o mesmo pé-na-bunda amoroso, sob a visão feminina. Essa música traça um panorama bem parecido ao descrito por Chico Buarque em “Olhos nos olhos”, sob a visão de uma mulher moderna. Um belo esporro!!! Que fique bem claro que as influências agora são transmitidas nas entrelinhas, como em “seu corpo eu larguei pra vida e as lembranças mandei pro esgoto, junto às mágoas corrosivas”.
A faixa-título, “O papo do bicho”, é um ragga, que encontra um repente, que encontra um axé, que encontra um muffin – que é bolinho em inglês – só para se ter uma noção do que rola nas entrelinhas e na cabeça do Vavá, que tem algum cabelo e muitas idéias que lhe sobram. “Tota-tola” é a canção mais comercial e anti-comercial que já vi. Digo comercial no sentido de que devia ser o jingle oficial de todos os tempos, não só da Coca-cola, mas também do Ministério da Saúde, do PCC e até do Greenpeace ou WWF, ou coisa parecida.
“Arará” é um xote? É um reggae? Pelo toque da guitarra é um reggae, mas se isso não é um xote... Não sei, não... Mas o que importa é a letra que diz “a minha como há muito não fazia – o arará – e fez a minha, mas não fazia”. “Ai ai ai Niemai” foi inspirada no arquiteto que inventou as esquinas de Brasília, mas também quer falar do prato tradicional da culinária do inferno. Mas eu é que não vou comer isso aqui!
No esquema piscou-perdeu, você ouve várias vinhetas durante todo disco, e são elas que pontuam a intenção do disco. Quando percebi “Resolver” passou. Em “Mimo”, Vavá encerra o disco como mestre da bateria de caixinhas de fósforos e maestro do baixo. Um reggae-samba que é quase uma canção de mimar, seguida por mais uma breve vinheta, em “Poemeta distintiva”.
Vavá Afiouni e o Toró de Palpite fazem um rock que não é rock e que mistura reggae, com xote, com ragga, com groove e muito baixo. Mas ainda que seja um disco simples, é cheio de nuances e pequenos detalhes que até mesmo a inclusão de uma canção de Noel Rosa faz sentido no final das contas. Através das linhas que dizem “há de viver eternamente sendo escrava dessa gente que cultiva a hipocrisia”.
1. Macarrão com molho
2. O sistema é bruto (& Indiana Nomma)
3. Tota-tola
4. O começo
5. O trono
6. Da cárie
7. Filosofia
8. Poemeta catapulta
9. O papo do bicho
10. Arará
11. Ai ai ai Niemai
12. Poemeta dialética
13. Resolver
14. Mimo
15. Poemeta distintiva
Abaixar
2 comentários:
Fala, Bruno!
Massa o post. Se puder, acrescenta os créditos das fotos, por favor.
São do Hugo Santarém!
Valeu!
meio sem querer - vc mesmo já deixou o crédito das fotos.
como o release do disco não tem nada a ver com as fotos... e foi um texto que o vavá pediu (pra ele enviar pruma revista de baixo)... acho melhor mesmo as fotos ficarem creditadas aqui nos comentários.
Além de ter feito as fotos... o Hugo Santarém também tratou as imagens.
Que ficaram ducaraleo!
Postar um comentário