Como definir o som da banda ‘
Graveola e o Lixo Polifônico’? Se nem mesmo o Luiz Gabriel Lopes, que canta e toca violão, consegue...
Eles têm um som de vários estilos, como o samba-tango de ‘Samba de outro lugar’, que pode ser entoada em uníssono nas arenas dessa vida ‘desatada’. À delicada ‘Amaciar dureza’, que tem tanta poesia na letra, que só mesmo um ouvinte mais atento percebe a necessidade de ‘amar se há dureza’, como lembrou um ouvinte atento.
Esses mineiros fazem um som com a intensidade de quem vai escrever o nome no panteão da música popular brasileira, juntamente com outros mineiros ilustres, como certos “Miltons, seus tons, e dons geniais”.
Até mesmo na velha canção do Roberto eles metem o dedo, como em ‘Dois lados do coração’, mas também há espaço para “quando não somos ‘Mutantes’”. E ainda sobra tempo para especular se o ‘Chico Buarque de Holanda vai à copa de 2006’.
Pois o Luiz Gabriel Lopes, que canta e toca violão, resolveu abrir o bico e vai desvelar toda a verdade aqui no blogui.
Eu Ovo: Antes de mais nada, gostaria que você apresentasse a banda? Quem toca o quê? De como se juntaram? Etc.Luiz Gabriel Lopes: A gente começou tocando informalmente, eu, Marcelo e Zé, pelas rodas de violão da Fafich, na Ufmg. Éramos estudantes da graduação... Isso em 2004, 2005. Aquele esquema, tocando de tudo, de Caetano Veloso a Spice Girls, hehehe... Aí com o tempo a gente começou a se reunir com mais frequência, fora da faculdade também... Começamos a tocar em festinhas da sala... Aí minha irmã (Flora) começou a tocar com a gente (Já tinhamos tido algumas bandas em Entre Rios, cidade de onde viemos) e virou banda mesmo, com esse nome, ‘Graveola e o Lixo Polifônico’, lá pra 2006. Era eu, Marcelo, Zé e Flora. Já tínhamos algumas músicas próprias... ‘Supra sonho’ é dessa época, ‘Insensatez’ também... ‘Chico Buarque de Hollanda vai à copa de 2006’...
E aí fomos crescendo, agregando mais gente... Alguns amigos se aproximaram, entraram pra banda... Hoje somos sete:
Luiz Gabriel Lopes - Voz, violão, guitarra, percussão
José Luis Braga - Voz, violão, guitarra, escaletas
Flora Lopes - Percussão
Marcelo de Podestá - Teclado, escaletas, percussão, vocais
Yuri Vellasco - Bateria, percussão, glockenspiel, escaletas, vocais
João Paulo Prazeres - Sax soprano, sax alto, flauta, escaletas, percussão, teclados, vocais
Bruno de Oliveira - Baixo elétrico, baixo acústico, percussão, vocais
Sendo que os instrumentos, em tese são intercambiáveis, depende muito do que a música pede também, e do que cada um acaba arranjando de tocar...
EO: Quais são as influências de vocês? LGL: Cara, falar de influências é falar de um processo em constante transformação, cada coisa que a gente ouve acaba transformando a percepção, dando novas idéias... Mas se for falar de umas coisas bem basilares, tem o Tom Zé, de quem a gente pegou muita coisa tanto da obra quanto do pensamento dele.... Caetano e Gil, sempre, principalmente no aspecto composicional, na busca de um certo paradigma de canção... Também Itamar Assumpção, Rumo... Sérgio Sampaio... Da coisa de 'banda’ mesmo tem os Mutantes, Novos Baianos... Robertão, o Rei... Tem também uma certa devoção com os ícones bregas, Reginaldo Rossi, Odair José... Na verdade, são muitas bagagens diferentes e muita coisa misturada, o bacana é isso.
EO: As referências nas letras das canções são propositais? Em ‘Samba de outro lugar’, ‘Amaciar dureza’, ‘Ensolarado’, ‘Dois lados da canção’ e ‘Do alto’.LGL: Eu diria que são tão intencionais quanto inevitáveis: A coisa da “estética do plágio”, que é uma espécie de metodologia composicional de que o Tom Zé fala no ‘Com Defeito de Fabricação’ (Disco dele de 1998, eu acho), pra gente foi uma descoberta num plano teórico de uma coisa que já desenvolvíamos naturalmente. Isso de trabalhar com a intertextualidade mesmo, citar coisas de músicas que constituíam esse nosso panteão estético da canção... Ir achando as referências, os plágios internos a cada música, e investir neles criativamente, ampliando o raio de ação deles sobre o todo. E aí o jogo era esse, de sobrepôr as vozes mesmo, a nossa e a dos textos com quem estávamos dialogando, sempre numa relação de desterritorializar, de jogar com esses deslocamentos do texto em direção a um sentido construído na interseção entre as duas coisas. O disco tem muitas citações mesmo, e através delas dá pra sacar um pouco desse imaginário da canção com que a gente joga.
EO: Com a interseção entre as duas coisas, você quis dizer a voz e o texto?LGL: Digo “voz” no sentido discursivo, vozes que atuam num discurso, num texto - que pode ser musical, verbal, visual. o texto como algo a ser lido. No caso, a busca da tal interseção é exatamente entre o texto que vem do nosso âmbito composicional "original", por assim dizer, e os textos lidos, que integram nosso vocabulário, o quadro de referências sobre o qual a gente trabalha. então, a idéia das apropriações acaba sendo no sentido de criar esse terceiro lugar, entre nós e nossas referências. Sacou?
EO: Como você definiria o som do Graveola e o Lixo Polifônico?LGL: Putz, essa pergunta eu pulo, hehehe...
EO: Então me diga o porque do nome Graveola e o Lixo Polifônico?LGL: Entonces, o nome ‘Graveola’ é cheio de controvérsias... Eu particularmente não lembro de nenhum motivo ‘semântico’... Não tem relação com a fruta, nem nada. Acho que foi um insight puramente sonoro mesmo. Mas a história do ‘Lixo Polifônico’ tem várias ramificações... A primeira de todas, a fundante, é que no início o Marcelo não tocava nenhum instrumento ‘de verdade’, só ficava batucando uma lixeira que carinhosamente apelidamos de ‘Lixo Polifônico’. Então era isso, violão, voz e lixo polifônico. Não tínhamos instrumentos de verdade, rolava a coisa da precariedade mesmo. Uma ou outra flautinha de brinquedo, umas cornetinhas de camelô... E nisso rolava um interesse pelo potencial sonoro/ estético dessas coisas. Tinha também a questão com o lixo como algo residual, passível de ser descartado... Mas que a gente não descartava, absorvia. A idéia da reciclagem mesmo. também a incorporação de tudo que supostamente fosse ‘lixo cultural’, essas referências mais amaldiçoadas que a gente sempre absorveu de bom grado, por vocação, ou condição histórica mesmo... Todos vivemos o surgimento do axé, nos anos 90... O pagode, a música sertaneja, essas coisas todas que formam um certo imaginário ‘kitsch’ genuinamente brasileiro. Então, inevitavelmente, tudo isso constitui parte do nosso vocabulário... E aí, o que costumávamos fazer era simplesmente não ter uma atitude de negação imediata, como seria comum, mas absorver dali o que tivesse a ver com a gente. Tentar re-trabalhar esse imaginário de uma forma própria, fazendo umas aproximações meio malucas, plagiando e reprocessando tudo numa direção meio incerta, mas que foi dando um resultado bacana, e que foi dar na nossa sonoridade de hoje.
EO: E como anda a cena musical de Belo Horizonte?LGL: Finíssima! Muita coisa boa, muita diversidade, gente fazendo coisa séria, desenvolvendo trabalhos próprios... Vale a pena dar uma sacada mesmo, acho que a galera que sair daqui vai dar um caldo bom, uma sacudida cabulosa no cenário da música brasileira. Dos trampos autorais que tão rolando por agora indico:
Kristoff Silva,
Rafael Macedo, ‘
Quebrapedra’, ‘
The Dead Lovers Twisted Heart’, ‘
Pablo Castro e a Banda dos Descontentes’,
Transmissor,
Alexandre Andrés, ‘
The Junkie Dogs’, '
Mutum'... Putz, é muita gente, nem dá pra falar de todo mundo... É só dar uma viajada no myspace pelas redes da galera daqui que dá pra sacar muita coisa fina.
EO: E vocês já tocam há um tempo na cidade... Desde 2006 com esse nome... Já deu pra reunir bastante fãs do trabalho de vocês, em BH? Me fale um pouco como é o show de vocês?LGL: A banda já ensaia existir desde 2004, mais ou menos. 2006 foi quando a coisa oficializou mais mesmo... E de lá pra cá, foi mudando muito a sonoridade, as concepções, a formação foi crescendo... Toda uma história. E aí felizmente já rola um público legal sim, temos ficado muito felizes com a receptividade da galera, sempre enchendo nossos shows... E querendo ou não, BH é uma cidade muito pequena, fica difícil uma coisa não ‘gastar’ rápido, a gente ficava até com um certo receio de tocar com muita frequência, por ser um repertório autoral, e tal... Mas temos tido boas surpresas quanto a isso, sempre rola um acolhimento muito bacana da galera... E numa banda de sete pessoas, só os círculos de amizade de cada um já dá pra encher o show, né? Hehehehe....
O nosso show tem sido basicamente as músicas do disco, mais alguns covers que vão mudando com o tempo, e geralmente alguns ‘work-in-progress’ de músicas novas, que devem entrar num próximo disco. É massa pra ir testando os arranjos, acostumando a tocar as músicas... E em geral rola uma energia muito boa, é massa. Eu curto muito tocar nos shows do ‘Graveola’.
EO: Claro que vocês, como banda independente, curtem downloads gratuitos... Mas você acha que os downloads gratuitos prejudicam os artistas já consagrados?LGL: Acho que isso é coisa de quem não tá disposto a se adaptar às mudanças. É claro que tem um monte de treta no meio disso, a situação do artista no nosso país é muito fudida mesmo... Não tem um respaldo eficaz das políticas públicas, o mercado não é suficientemente consistente e auto-sustentável, é foda mesmo. Pra segurar a onda tem que ralar muito, contar com a sorte, fazer de tudo e ainda assim nem sempre dá pra se manter. Mas acho que a internet é uma realidade incontornável, então não tem jeito, tem que fazer dela um uso consciente e potencializador das suas virtudes. No caso do ‘Graveola’, posso dizer que é sem dúvida um meio essencial pra viabilidade do nosso trabalho. Tem aberto uma porrada de portas e levado nosso som pra muitos lugares bacanas. Então, acho que é meio por aí, tá na chuva é pra se molhar. Não dá pra ter uma postura retrógrada, tem mais é que entrar de cabeça nessa história e tirar proveito dela.
EO: Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar? Que eu não perguntei...LGL: Baixem nosso disco e escutem com carinho...! Fizemos com muito cuidado e honestidade, e ficamos muito satisfeitos com o resultado, então esperamos que vcs curtam. Abração e inté!
EO: Grande abraço pra você... E como anda a cidade BH? Já morei ai... Fazem anos que não visito a cidade...LGL: Pra vc também, brother. Valeu demais. BH continua linda... Apareça pra sacar a galera da música, tá valendo a pena mesmo! FaloU!
Luiz Gabriel Lopes
2009 Graveola e o Lixo Polifônico 1. Outro modo
2. Supra sonho
3. Samba de outro lugar
4. Antes do azul (papará)
5. Amaciar dureza
6. Ensolarado
7. Dois lados da canção
8. Do alto
9. O quarto 417 (As aventuras de Dioni Lixus)
10. Benzinho
11. Insensatez, a mulher que fez
12. Chico Buarque de Hollanda vai à copa de 2006
13. Cidade
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