7.26.2015

TÔ TE EXPLICANDO PRA TE CONFUNDIR E TÔ TE CONFUNDINDO PRA TE EXPLICAR

O novo disco da banda paulistana 'Passo Torto' vem pra confundir e complicar o entendimento e a percepção.  


'Passo Torto' é uma super banda paulistana. São os caras mais inventivos da cena musical da cidade de São Paulo. Formada por Rômulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral.

Junto com a cantora Ná Ozzetti, eles lançaram o álbum 'Thiago França'. Não... O saxofonista França não faz e nunca fez parte da banda – assim como não participa deste disco. Apenas foi homenageado no título numa clara alusão a eterna confusão que sempre o colocam como membro deste supergrupo.

O fato é que o França toca com toda essa galera em seus trabalhos solo, com Kiko Dinucci ele mantém o 'Metá Metá', que ainda tem a cantora Juçara Marçal, com o Rômulo Fróes ele gravou o álbum mais recente, 'Barulho Feio', com Rodrigo Campos gravou o 'Bahia Fantástica' e com o Marcelo Cabral integra o 'MarginalS', junto com o baterista Tony Gordin.

Foi então que esse quarteto de cinco fez um dos álbuns mais complexos do ano – o álbum 'Thiago França' – com a cantora Ná Ozzetti. O disco é osso duro de roer e ouvir. Uma pérola que faria sorrir o maestro vanguardista Itamar Assumpção e que deve deixar orgulhoso o mestre Arrigo e todos aqueles outros que integraram o movimento de vanguarda paulistano. Mas não tem saxofone nesse disco...

Essa galera do 'Passo Torto' representa a nova geração de vanguardistas e seguem à risca a inventividade e dodecafonia e hermetismo. Impossível terminar a audição deste álbum sem estar modificado ou transtornado de certa forma – de preferência em posição fetal ou em desespero catatônico. Tá esperandoquê?

2015 Thiago França (Passo Torto + Ná Ozzetti)

1. Cipó
2. Perder essa mulher
3. Beth
4. Onde é que tem?
5. Esse homem
6. Homem comum
7. Palavra perdida
8. O cinema é melhor
9. Bloco torto
10. O cadáver

7.19.2015

ZÉ PI NOS ENSINA A RIZAR

Cantor e compositor paulistano estréia em álbum cheio de belas canções populares de clima energético e contagiante.  


Zé Pi é cantor, guitarrista e compositor e já integrou as bandas 'Drugues', 'Tigre Dentes de Sabre', sem falar nos álbuns que gravou – com gente como Tatá Aeroplano, Meno Del Pichia, Gustavo Galo e Tulipa Ruiz.

Zé Pi recém lançou o belo e lúdico álbum de estréia, intitulado 'Rizar', com diversas participações de colegas e um clima de evocação e anunciação de mais um disco bate-cabeça e com canções de rodopiar na sala e sair correndo e dançando por ai como se estivesse num clipe da Bjork, cena de Glee ou musical dos Muppets etc e tal.

Com canções que emanam diversos climas e estilos, mas sempre com a propensão de serem cantadas em uníssono dentro de estádios lotados. Com uma banda com o próprio Zé Pi nas guitarras e Meno Del Pichia no baixo, André Lima nos teclados e sintetizadores e Richard Ribeiro na bateria e percussão, gravaram 'Acredito' com esse clima indie de ser entoada como mantra pela multidão – com vocais de Barbara Eugenia e Karine Carvalho – e 'Se você soubesse', com todo peso e pinta de que poderia virar um dos hinos oficiais do roquenrou brasileiro – essa última com o solo especialíssimo de Luiz Chagas.

Um dos pontos altos do disco são as canções com arranjo de sopros com a metaleira da 'Trupe Chá de Boldo' (Remi, Cuca e Mumu) em 'Muito tempo', também com o solo de guitarra de Tim Bernardes'; o fagote de Isabel Favila em 'Gosto de você' e no clarinete de Juliana Perdigão em 'Depois', também com a voz de Tulipa Ruiz e o baixo de Gustavo Ruiz, que foi quem produziu esse petardo.

O álbum abre e encerra com peças musicais com quarteto de cordas formado por Aramís Rocha, Rafael Oliveira, Robson Rocha e Daniel da Silva – 'Fique a vontade' e 'Bem melhor do que está', respectivamente. 'Dor e solidão' é mais uma daquelas canções climáticas, que começam bem lentinhas e depois explodem numa catarse mítica e apocalíptica, com tudo sendo ressaltado pelo arranjo de cordas de Jaques Mathias.

'Anoiteceu' tem uma levada de balada calipso e é uma canção sossegada com o vocal delicado de Leo Cavalcanti e trás ainda o piano de Mauricio Fleury – que também é um dos co-autores da música – e a percussão de Stephane San Juan. Se tivermos mais pessoas ouvindo esse disco nos fones-de-ouvido em trens, metrôs, ônibus etc vai ser um festival de gente dançando e cantando no meio da rua.

O disco 'Rizar' trás o que há de melhor no cenário popular brasileiro com a produção atual dessa turma que vem deixando uma obra relevante e interessante de verdade.

2014 Rizar

1. Fique a vontade
2. Anoiteceu
3. Muito tempo
4. Acredito
5. Dor e solidão
6. Gosto de você
7. Se você soubesse
8. Depois
9. Bem melhor do que está

7.12.2015

SENDEIRO LUMINOSO DO AMPLEXOS

Banda 'Amplexos' apresenta continuação do caminho iniciado no disco anterior e uma busca por um caminho espiritual interior.


Não dá pra falar do 'Amplexos' sem mencionar a guinada no som que eles se proporcionaram. Uma mudança é complicada, ainda mais quando envolve todo o coletivo.

A banda do interior de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, começou a carreira em 2008 com o ótimo álbum de estréia auto-intitulado. Chegou a lançar um single em 2010, que trazia uma regravação de uma canção e uma versão de 'Off the Wall' de Michael Jackson – essa cover ditou todo caminho seguido pela banda a seguir.

Na verdade o 'Amplexos' tinha tudo para virar mais uma bandinha pop de encher estádio, com todo mundo cantando em uníssono etc e tal. Mas não virou... A banda cresceu, amadureceu e foi pra rua buscar sua identidade.

Com muito improviso, os caras da banda criaram um repertório único e uma pegada peculiar que os identifica na primeira audição – poucas bandas conseguem isso. Mas também o 'Amplexos' não é nada iniciante e está lançando agora o terceiro álbum – com uns três singles ai pelo meio de tudo – 'Sendeiro', que quer remeter ao caminho luminoso que a banda empreendeu.

Nesse caminho, a banda recebeu a visita do guitarrista Oghene Kologbo, que tocou com Fela Kuti e Tony Allen e abriu novos horizontes para os integrantes – Guga na voz e guitarras, Leandro Vilela nas guitarras e voz, Nartchê nos teclados e vocais, Polito no baixo, Leandro Tolentino nas percussões e Mestre André na bateria.

Com produção deles mesmos e total influência de Buguinha Dub, a banda apresenta um disco curto e totalmente não radiofônico a banda apresenta uma urgência sonora poucas vezes vista ou ouvida na música brasileira.

Um som coeso e surpreendente, o 'Amplexos' entrou definitivamente no cenário das grande bandas nacionais. Ouçam 'Sendeiro'.

2015 Sendeiro

1. A tecnologia
2. Miragem
3. O presente
4. Cai pra dentro
5. Do perdão
6. Travessia
7. Om

7.06.2015

SIBA E A MINI-DESORQUESTRA DE BAILE SOLTO E RIMA

Cantor Siba apresenta universo expandido das tradições do maracatu de rua pernambucano e proporciona o incrível dialogo entre o rural e o urbano.  



Em seu segundo álbum solo, Siba não é nenhum iniciante já que gravou outros sete discos em outros projetos. Foram três com a banda 'Mestre Ambrósio', que no meio do 'mangue-bit' seguia caminho inverso voltando às raízes do maracatu pernambucano. Nos outros quatro álbuns, Siba seguia o mesmo rumo iniciado no princípio – dois discos com 'A Fuloresta do Samba' e um com Barachinha e outro com Roberto Corrêa.

Siba parecia fadado a prestigiar com a rabeca o seu peculiar talento de inovar nas narrativas ritimicas, não fosse o nascimento de 'Avante' – o primeiro álbum solo, que trazia todas as tradições da Mata Norte e do carnaval de rua pernambucano, mas tudo misturado com a vivências do cantor. Foi quando ele popularizou o som ao proporcionar o diálogo da guitarra com a tuba. Dessa forma, todos outros álbuns convergiram para este ponto como fosse premeditado.

'De Baile Solto' carrega todo um diálogo iniciado em 'Avante', que por sua vez com todos precedentes. O que Siba conseguiu com essa obra, não pode ser mensurada hoje sem levar em conta os anos passados. No carnaval de 2014, Siba defendeu a tradição dos ensaios de maracatu de rua, contra a interrupção as duas da manhã, da mesma forma como defendeu o Complexo Estelita de se tornar um empreendimento imobiliário.

É dessa forma que o álbum 'De Baque Solto' inicia – com a mais poderosa e bela canção de protesto de todos os tempos. Esqueça o Vandré ou o Buarque e ouça o Siba em 'Marcha macia'. Com versos poderosos Siba profetiza, “acorda, amigo, o boato era verdade... A nova ordem tomou conta da cidade. É bom pensar em dar no pé, quem não se agrade. Sendo você, eu me acomodaria...”. Putaqueopariuuuu... Isso cabe pro #ocupeestelita, #wallstreet, #lovewins e tudo mais #### que puderem imaginar...

'Gavião' havia sido gravada anteriormente pelo 'Mestre Ambrósio' e tinha uma pegada mais animada, mas essa nova gravação ressalta a narrativa sobre a ave de rapina. 'Mel tamarindo' mostra definitivamente que “quem manda é a tuba”, como diz o próprio Siba. 'Três desenhos' demonstra exuberante arranjo com xilofones em contraponto com a tuba, desenhando a melodia com fosse uma cobra, labaredas e “milhares de esqueletos”.

Em 'Três Carmelitas' Siba volta a lembrar da infância evocando o presente. Coisa mais bela de se ouvir. 'Quem é ninguém' trás de volta a veia política de Siba, quando evoca a sociedade atual. 'De baile solto' mostra a única canção instrumental que denota uma montanha russa de emoções ao ouvinte atento. 'A jarra e a aranha' brinca com aliterações e ditados trava-línguas. Impossível de cantar junto com Siba.

Outra canção épica de extrema beleza é 'O inimigo dorme', que parece continuação direta de 'Bravura e brilho'. 'Meu balão vai voar' encerra bem o álbum com um solo fenomenal de Siba – coisa inexplicável de tão boa... Deixa um gostinho de quero mais...

O fato é que 'De Baile Solto' é um disco épico. Um disco que dialoga com toda a obra anterior do cantor. Um álbum que pode ser o segundo de uma trilogia, iniciada em 'Avante'... Uma obra ímpar. Inquestionável.

2015 De Baile Solto

1. Marcha macia
2. Gavião
3. Mel tamarindo
4. Três desenhos
5. Três Carmelitas
6. Quem é ninguém
7. De baile solto
8. A jarra e a aranha
9. O inimigo dorme
10. Meu balão vai voar