Tem um samba moderno, que não parece samba, que tem um pé na África, mas também traz um cheiro de novidade. Esse samba é do Kiko Dinucci, que já tinha aportado por aqui com o ‘Bando AfroMacarrônico’ e com o ‘Duo Moviola’, em companhia de Douglas Germano.
Com o disco ‘Na Boca dos Outros’, Kiko Dinucci se acompanha de diversos interpretes, como Juçara Marçal, Fabiana Cozza, Alessandra Leão e Maurício Pereira, entre outros. A sonoridade do disco fica entre o jongo e a jangada, Arujá e Janaína, chantagem ou cachaça.
Dizem que a música do Kiko faz um resgate dos jongos, congadas e leva o samba de raiz para o formato dos multimeios. Enfim... É o samba multimídia.
Com o disco ‘Na Boca dos Outros’, Kiko Dinucci se acompanha de diversos interpretes, como Juçara Marçal, Fabiana Cozza, Alessandra Leão e Maurício Pereira, entre outros. A sonoridade do disco fica entre o jongo e a jangada, Arujá e Janaína, chantagem ou cachaça.
Dizem que a música do Kiko faz um resgate dos jongos, congadas e leva o samba de raiz para o formato dos multimeios. Enfim... É o samba multimídia.
Como é que surgiu a necessidade desse disco? Houve a necessidade de ouvir (e apresentar) suas canções na voz de outros artistas?
Mais que a necessidade de ouvir as músicas na boca de outros interpretes, eu tinha a necessidade de trabalhar músicas antigas que dificilmente seriam gravadas se não fosse dessa maneira. A maioria das músicas são antigas, de 10 anos atrás. Há três anos estou compondo menos e re-arranjando as coisas que eu já tinha, o que também é criação, as vezes as pessoas esquecem que arranjo também pode fazer parte da composição, não queria ouvir as melodias e letras andando sozinhas, queria ouvi-las revestidas de arranjos peculiares, para que elas ficassem mais ricas. E depois dos arranjos feitos, poder ouvir essas canções na boca de artistas que eu admiro muito foi um prazer enorme.
E como surgiram os nomes das pessoas que participaram do disco? Tinha alguém que você não conhecia?
Eu conhecia todos os interpretes, o que eu conhecia menos era o Mauricio Pereira, mas nos aproximamos mais com a feitura do disco, já ouvia o Mauricio desde ‘Os Mulheres Negras’ e já o admiro de longa data. Mas acho que no geral, são pessoas do meu convívio.
Suas musicas têm forte influência do Adoniran Basbosa na forma da crônica do cotidiano... Você pode apontar outras referencias do samba paulista?
Fico feliz das pessoas enxergarem essa influência do Adoniran, porque eu tenho mesmo, mas sempre admirei o Paulo Vanzolini e acho que tenho até mais influência dele que do Adoniran, gosto muito dos mestres Geraldo Filme, Germano Mathias, Eduardo Gudin, bem como compositores da nova geração como Douglas Germano, Rodrigo Campos, da pernambucana Alessandra Leão. Mas acho que o que me influência pra valer nessa linha cronista é a música caipira: Raul Torres e Florêncio, João Pacifico e por aí vai. E tem também a geração dos anos 80, ‘Premê’, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, ‘Os Mulheres Negras’, que cantaram de São Paulo de um jeito espontâneo, natural e que além da crônica, também narraram a cidade através dos sons, ou seja, a parte instrumental de suas canções também traduziam sampa.
É sua intenção criar uma nova cara pro samba paulista? Modernizando, entortando e até trazendo de volta elementos da música africana...
Não fico exatamente preocupado em dar nova cara pro samba de São Paulo, apenas faço o meu som somando todas as influências que eu acumulo, jazz, África, Caribe, erudito, acho que por isso esse samba aparece de um jeito diferente e já nem penso mais se é samba ou não, é apenas música brasileira feita por um cara que ouviu de tudo na rádio, que assistiu muita TV e agora se manifesta dessa maneira. Se é samba ou não, pouco me importa.
O que você acha dessa denominação de musica de resgate?
Quem tem que resgatar as pessoas é a polícia, minha música não tem nada com isso. O termo ‘Samba de Raiz’ também me irrita, tenho uma música com o Douglas Germano que fala "Meu samba é de raiz de mandioca, Beterraba, cará, inhame, aipim, nabo, cenoura e batata. É a voz do Polvo, da ostra, Lula e mexilhão. É a resistência! Do chuveiro, meu irmão". Essa vertente "mesa branca" dos jovens que cultuam o passado em demasia não me interessa, meu tempo é hoje. Adoro o Rodrigo Campos cantando frases como "pelo tesão que a gente sente", "faz final na saída do metrô Carrão", ele está vivendo o hoje. Cartola, Geraldo Pereira, Bide e Marçal, Ismael Silva, Noel Rosa, esses caras foram muito contemporâneos e ainda são atuais, não estavam preocupados em exaltar o passado, não ficaram falando de lampião de gás, carroça ou da família real portuguesa, falaram do século 20, eu quero falar do século 21.
2009 Na Boca dos Outros
1. Ciranda para Janaína (com Fabiana Cozza)
2. Anjo protetor (com Marcelo Pretto)
3. Depressão periférica (com Maurício Pereira)
4. Perua (com Paula Sanches)
5. Partida em Arujá (com Juçara Marçal)
6. Bala de prata
7. Forró do homem bomba (com Marcelo Pretto)
8. Pobre star (com Mamelo Sound System)
9. Funeral (com Bruno Morais)
10. Bom Jesus da Cabeça (com Alessandra Leão)
11. Choro roots (com Karina Ramos)
12. Vila Esperança (com Fernando Szegeri)
13. Agenda (com Nenê, Mané e Ilka Cintra, Juçara Marçal e Mônica Thiele)
14. Balão de noivado (com Suzana Salles)
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