A união entre João Gomes, Mestrinho e Jota.Pê representa o que tem de mais popular no cenário da música brasileira atual.
O CENÁRIO:
O SERTANEJO
Desde os primórdios da música sertaneja, seus representantes retratam o cotidiano do sertão. Seja nos Aboios e vaquejadas, os compositores cantam versos sobre quermesses, festas e amores. Inúmeros representantes permearam o cenário sertanejo e marcaram a história como referência deste estilo.
Quando as feiras cresceram e o número de expectatores também aumentou e foi necessário amplificar o alcance do som sertanejo e difundir as idéias e canções ao mundo todo. Aos poucos a vivência daquele mesmo menino matuto cantador de causos do nordeste mudou do sertão para a cidade e ele viveu tantas experiências novas que trocou a vaca estrela e o boi fubá pelo Camaro ou moto-taxi amarelo.
O cancioneiro popular do sertão foi do circuito universitário e está de volta ao chão pisado das sertanias com temas cotidianos que vão do amor na era digital. O cenário atual da música sertaneja é hoje representado por inúmeros cantores e cantoras que realçam a grandeza do gênero através de suas próprias experiências.
O forró, dizem ter nascido dum termo pejorativo norte-americano que traduz como um baile “para todos” (“for all” em inglês). Mas o termo remete a um passado mais distante, o “forrobodó” que significa festa doida ou confusão. Como estilo musical, sempre fora dividido em diversos sub-ritmos como baião, xote, arrasta-pé, xaxado etc.
Na era das rádios, ouvia-se muito forró de todos os tipos, mas com o advento da televisão, o estilo foi perdendo seu lugar de honra na predileção popular da época e sofrendo falta de audiência nas mídias. Foi assim que Luiz Gonzaga introduziu o trio de sanfona, zabumba e triângulo, de modo facilitar a viagem às feiras e quermesses do sertão a fora. Este fato não só permitiu uma sobrevida de artistas deste gênero tão popular, mas também possibilitou o nascimento de diversas gerações de novos forrozeiros.
Neste novo formato, o forró sobreviveu na predileção popular da juventude, que incrementou o gênero misturando elementos atuais dentro da receita tradicional. Hoje em dia o forró tem seu lugar de destaque e passou a ser apreciado nas grandes salas de concertos do mundo inteiro.
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O AFRO-POP ACÚSTICO
A música popular periférica brasileira teve origem nas tradições das festas populares de rua e foi se modernizando através dos jovens que misturavam o passado com toda aquela vivência de ritmo e poesia, batendo latas e panelas e assim criaram estilos como o repente e muitos outros.
O jovem de periferia evoluiu a própria música e reinventou-se em outros ritmos. Hoje, toda essa evolução pode ser percebida como um novo som, que é uma mistura inusitada do acústico no estilo violão pop de luau com Ijexá e afoxé e até outros Grooves.
Este novo estilo, grupo ou movimento sem nome, pode ser percebido no som de gente como Xamã, Os Garotin, Gilsons, Filhos de Jorge, bem como em diversos artistas internacionais. Hoje esse ritmo acústico soa como o resultado natural de todas as vivências de toda juventude atual – como um afro-pop acústico.
O HOMEM:
JOÃO GOMES
O cantor João Gomes começou a cantar desde cedo, aos sete anos, no coral da igreja em Petrolina, no estado de Pernambuco. Despontou em 2019 como revelação do gênero piseiro e das vaquejadas. A facilidade de criar canções memoráveis foi a razão do grande destaque nas redes sociais.
Conhecido como Rei do Piseiro, João Gomes foi o artista mais escutado do Brasil em 2021 – pelo serviço de streaming mais popular do país. Hoje ele representa um gênero em constante ascensão no mercado da musica brasileira e serve como inspiração para todos outros artistas que seguem o mesmo estilo musical.
João Gomes já se apresentou com artistas como Zé Vaqueiro, Xand-Avião, Barões da Pisadinha, Tarcísio do Acordeom, Vitor Fernandes, Vanessa da Mata e Fagner, entre outros.
MESTRINHO
Mestrinho nasceu em berço musical, filho e neto de sanfoneiros, toca o instrumento desde os seis e profissionalmente dos 12 anos. Com 17 anos, saiu de Aracaju, se mudando de Sergipe para São Paulo, junto com a irmã Thais Nogueira, com quem formou o Trio Juriti.
Desde então, dividiu os palcos com inúmeros artistas como Dominguinhos, Elza Soares, Hermeto Pascoal, Chico Cesar entre outros. Também gravou com gente como Elba Ramalho, Mariana Aydar, Jair Rogrigues, Gilberto Gil e o disco solo da própria irmã Thais Nogueira.
Atualmente é considerado uma grande referência do gênero e importante representante do estilo.
Nos recantos por onde esteve, o cantor e sanfoneiro levou seu estilo inconfundível e segue reverenciando as estrelas do passado e difundindo a sanfona por todo país.
JOTA.PÊ
O cantor Jota.Pê nasceu em Osasco, São Paulo, e desde pequeno dedilha as cordas dum velho violão. Também veio de uma família musical, o pai, cantor de sambas; o tio, condutor de orquestra e o avô, chorão nas horas vagas, como todo bom chorão.
Formou em 2021 o duo Àvuà, com a colega Bruna Black, que foi indicado ao Grammy Latino, mas foi em 2024, com o segundo álbum solo, ‘Se Meu Peito Fosse Mundo’, que o artista conquistou logo três prêmios Grammy.
Com estilo único, Jota.Pê apresenta seu afro-pop acústico, levando as próprias composições e estilo que representa a um patamar internacional.
O disco abre com o xote ‘Lembrei de nos’ canção já presente no repertório de João Gomes, mas com uma suingada mais leve em clima de forró pé-de-serra. Esse clima de xote levinho segue com ‘Até mais ver’, mas depois vai assumindo levada mais movimentada em ‘Meu bem’ de João Gomes e ‘Flor’, de Mestrinho, canções inéditas e autorais, que representam o que há de melhor da modernidade no forró. ‘Flor de flamboyant’, apresenta ao Brasil, o compositor Kara Véia, conhecido como Rei das Vaquejadas de Alagoas.
O DISCO:
DOMINGUINHO
Numa tarde tranquila em Olinda, Pernambuco, três jovens artistas se encontraram para registrar quatro belas canções e planejar um futuro disco. O que aconteceu foi uma catarse coletiva e o trio, acompanhado de dois músicos de apoio, acabou produzindo um dos grandes destaques do ano.
João Gomes, Mestrinho e Jota.Pê se reuniram num fim de semana de março para gravarem ao vivo as 12 faixas do que viria a ser o disco ‘Dominguinho’, evocando o clima tranquilo de uma tarde ensolarada, mas também como uma bela homenagem ao grande ícone do forró, Dominguinho. Pois nesse sentido, de boas vibraçoes do reggae e do xote, o álbum ‘Dominguinho’ traz João Gomes nos vocais, Mestrinho também na voz e na sanfona, Jota.Pê na voz e violão e o auxílio luxuoso de Gilú Amaral nas percussões e Vanutti também no violão.
Em ‘Beija-flor’, Jota.Pê também apresenta canção autoral, que já fazia parte de seu reperrtório, assim como ‘Lenda’, onde ambas recebem um adorno deste clima despretensioso de um final de tarde. ‘Arriadin por tu’ define de vez por todas o clima de boas vibrações, que permeia todo este ‘Dominguinho’, assim como ‘Mala e cuia’, de autoria de Flavio Leandro e sucesso na voz de Flavio José – tanto que o sino da igreja abalou o final da canção como sinal de aprovação.
O disco também apresenta grandes sucessos do piseiro de João Gomes, em ‘Some ou me assume’ e ‘Mete um block nele’, que também vem acompanhada de ‘Ela tem’. O encerramento fica a cargo da regravação de um clássico do Charlie Brown Jr, ‘Pontes Indestrutíves’.
O disco foi registrado pela Macaco Gordo Sessions e a equipe toda teve que se aprumar afim de recolher todo o equipamento antes da chuva começar a cair torrencialmente, como se a terra chorasse copiosamente e pedisse bis. Segue o som.
2025 Dominguinho
1. Lembrei de nós
2. Beija flor
3. Arriadin por tu
4. Flor
5. Flor de flamboyant
6. Mala e cuia
7. Até mais ver
8. Some ou me assume
9. Mete um block nele/ Ela tem
10. Lenda
11. Meu bem
12. Pontes indestrutíveis