O novo álbum do rapper Criolo tem o samba como peça principal de exposição da crônica cotidiana urbana e periférica.
Desde o segundo álbum de sua carreira, o rapper Criolo apresenta um samba diferente e especial que relata o cotidiano urbano das favelas que conhece.
No primeiro álbum “Ainda Há Tempo”, o rapper ainda via o rep
com exclusividade e não tinha a produção especialíssima de Daniel Ganjaman e
Marcelo Cabral – que produziram também a regravação do primeiro álbum, onde o
rapper modifica trechos preconceituosos de suas antigas canções.
No segundo álbum, “Nó Na Orelha”, o rapper apresentou “Linha
de frente”, que relata de forma irônica uma boca de fumo cheia de figurinhas
inusitadas. No terceiro álbum, “Convoque Seu Buda”, o samba da vez foi “Fermento
pra massa”, onde uma bela crônica urbana e social ao relatar o cotidiano de um
morador do subúrbio que enfrenta uma greve de transporte com muito bom humor.
Pois era quase certo que o cantor apresentasse um álbum só
de samba. Nada mais justo que o rep ser o salvador da verdadeira música
brasileira. Nas mãos do rapper/ cantor/ compositor Criolo está é uma verdade
cada vez mais próxima da realidade. Com letras pungentes que ferem ao ser
proferidas, Criolo apresenta sua crônica social sobre temas atuais da situação
brasileira.
“Lá vem você” abre o álbum de forma alegre e espontânea,
como uma verdadeira roda de samba de subúrbio. Seria esta a versão “Garota de
Ipanema” do Criolo? “Dilúvio de solidão” tem versos característicos do rapper
como “nostalgia é guarda-chuva” e “para-raio é o pobre violão” ou “cachaça é
água que acaba com o caboclo”.
“Menino mimado” foi o ponto de partida do álbum e tem
destino certo. Uma crônica sobre a situação política em vias de golpe de estado
que o país vivia. Não é preciso se esforçar muito para saber a quem se destina
a letra da canção. “Língua ferina” foi incluída no álbum como bônus na versão
deluxe. Um samba maravilhoso para ser cantado em uníssono na roda de samba.
“Nas águas” é um ponto de umbanda. Axé! Outra canção para
ser entoada em uníssono com as baianas do baianá. “A filha do Maneco” é um choro maravilhoso,
composta em parceria de Criolo com Ricardo Rabelo e Jeferson Santiago.
A canção que dá título ao álbum, “Espiral de Ilusão”, é uma
ode anti-machista, que fala sobre mágoas de amor. Com muita propriedade o
cantor reflete que “mulheres amam, homens não sei o quê”. Onde ele encerra “por
favor não me liga e não me procure mais tarde”.
“Calçada” é um lindo samba de roda e “Boca fofa” é um samba
de gafieira. “Hora da decisão” é outra bela crônica do cotidiano da favela
composta por Criolo em parceria com Ricardo Rabelo e Dito Silva. A canção
reflete a situação vivida pelos moradores do subúrbio. “Penalidade não é loteria”,
ressalta Criolo.
“4 da manhã” é outro
bônus que só faz parte da versão deluxe. Outra crônica de um morador periférico
que segue na correria diária. “Cria da favela” leva o samba de volta ao alto
astral e encerra o disco pra cima com um samba rasgado e divertido.
O disco tem produção de Ganjaman e Cabral e participações de
Ricardo Rabelo no cavaquinho, Gian Correa no violão de 7 cordas, Ed no
trombone, Fernando Bastos nos saxofones, Mauricio Badê e Guto Bocão e Alemão
nas percussões e com as Clarianas (Martinha Soares, Malgana Lima e Maruna Costa) no coral feminino.
Destaque especial para a arte maravilhosa da capa do disco
feita por Elifas Andreato – uma obra de arte.
2017 Espiral de Ilusão
1. Lá Vem Você
2. Dilúvio de Solidão
3. Menino Mimado
4. Língua Felina
5. Nas Águas
6. Filha do Maneco
7. Espiral de Ilusão
8. Calçada
9. Boca Fofa
10. Hora da Decisão
11. 4 da Manhã
12. Cria de Favela
Um comentário:
o cara é muito versátil, né?
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