Filhos da vanguarda
paulistana apresentam o novo rock psicodélico brasileiro com um olho
no passado e outro no futuro.
A guitarra de Tim
Bernardes é cada vez mais feroz, o baixo de Guilherme d'Almeida, o
'Peixe' emana suingado e sofisticação enquanto a bateria de Vitor
Chaves carrega cada vez mais peso e balanço. Fora as participações
especiais de gente como Tom Zé, Luiz Chagas, Marcelo Jeneci, entre
outros.
Com letras inspiradas
Tim propõe uma crônica cotidiana, surreal e por vezes propondo
teoremas conspiratórios. O álbum abre com a rasgante 'Bote ao
contrário' de instrumental sofisticado calcado nos teclados
especiais do próprio Tim. 'O cinza', única parceria de Tim com
Chaves (todas outras composições são apenas de Tim) tem o riff
poderoso de abertura substituído por um clima delicado até a
melodia explodir em mil pedacinhos como “o jornal arremeçado”,
da letra da canção – que descreve um dia nubloso em São Paulo de
forma poética e singela.
'Ai ai como eu me
iludo' poderia ter sido gravada por Otis Redding, caso este falasse
português, mas cabe bem no arranjo poderoso d'O Terno'. Canção
calcada no órgão Hammond de Pedro Pelotas, onde Tim apresenta mais
uma crônica pessoal do cotidiano. 'Quando estamos todos dormindo'
tem o órgão Saema de Marcelo Jeneci e mostra uma das teorias
malucas de Tim, onde ele especula sobre o que fazem as pessoas
enquanto dormem. “Porém saibam que o sonho é o que é real de
fato, e o que era concreto na verdade é abstrato”, diz ele na
letra.
Em 'Eu confesso' Tim
trás mais uma análise pessoal psicológica das pessoas em si,
seguida por 'Brazil' com letra em inglês e uma versão lúdica e
fantasiosa dos cenários tupiniquins – com direito a selva criada
em estúdio pela banda e auxílio de Gabriel Basile. 'Pela metade'
tem mais outra crônica característica de Tim, com sua letra
conversada e cantada – como um papo de amig...
'Medo do medo' tem
participação de Tom Zé e mostra o domínio da banda em criar uma
atmosfera que encaixe no sentido das letras. 'Eu vou ter saudades'
tem a mesma atmosfera soul e a mesma participação de Pelotas no
órgão Hammond, bem como o lap steel de Luiz Chagas (guitarrista da
'Isca de Polícia'). 'Vanguarda?' ou 'Filhos da Vanguarda (ou não)'
faz um belo relato sobre a situação do jovens artistas paulistanos,
que cresceram sob as influências familiares, ou não, da 'Vanguarda
Paulistana'.
Em 'Quando eu me
aposentar' Tim sugere que a hora de descansar está diretamente
relacionada com a sensação de ter completado algo na vida – mas
que este sentido dá-se apenas no presente. 'Desaparecido' trás
outra letra característica de Tim, com um história fabulosa de
ficção-científica envolvendo clones, sequestro e crises
existenciais – com participações de André Vac nas rabecas e
Gabriel Milliet no sax e flautas.
Através do “desespero
doentio de quem não sabe enfrentar o vazio”, 'O Terno' encerra o
disco com delicadeza suficiente para deixar a sensação de que falta alguma coisa... Pois a verdade é que falta mesmo... Dê play
novamente, que você descobrirá o que é...
2014 O Terno
1. Bote ao contrário
2. O cinza
3. Ai, ai, como eu me
iludo
4. Quando estamos todos
dormindo
5. Eu confesso
6. Brazil
7. Pela metade
8. Medo do medo
9. Eu vou ter saudades
10. Vanguarda?
11. Quando eu me
aposentar
12. Desaparecido
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