Sids Oliveira ressurge
com 'O Grande Barco' em álbum de poemúsica, onde ele apresenta
influências de Walt Whitman, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, entre
outros.
Para falar d'O Grande Barco' é preciso antes estabelecer as motivações do personagem principal do projeto – o poeta Sids Oliveira.
A primeira incursão de
Sids na área musical foi com a banda de punk-rock 'Pastel e Caldo de
Cana', que manteve ao lado do colega Luiz Alfredo, hoje conhecido
como Alfredo Bello, ou DJ Tudo. Depois cantou com a banda 'Maya
Desnuda', que também tinha gente como Sergio Cepa, George Lacerda,
Janaina Sabino, entre muitos outros. Quando a banda se separou, Sids
continuou como duo junto com Cepa, apenas guitarra e voz, no que
ficou conhecido como 'Poesia Oblíqua'.
Foi esse projeto que
determinou o surgimento d'O Grande Barco', com bases eletrônicas e
guitarra e voz. O lançamento do primeiro álbum aconteceu através
de um livro de poesia musicada, ou como o próprio Sids prefere
nomear de “Poemúsica” - 'Um Dedo de Prosa, Uma Mão de Poesia'.
O disco, lançado em 2005, vinha encartado no livro e tinha diversas
participações especiais, dentre elas a do guitarrista Sergio Cepa e
do baixista e produtor musical Alfredo Bello, no que foi uma de suas
primeiras incursões na área de produção.
Hoje, 'O Grande Barco'
renasce na forma de álbum virtual, mas com a essência intacta de
poesia musicada, ou como prefere Sids, “poemúsica”. Atualmente a
banda conta com Davi Abreu nas programações e flauta, Leandro
Morais nas guitarras e do próprio Sids Oliveira na voz e
programações.
Neste novo álbum, Sids
aprimora a sua fórmula de composição, criando uma poesia cada vez
mais musicalizável. Com isso quero dizer que os poemas de Sids
sempre foram muito musicais, desde a época da 'Maya Desnuda', mas
atualmente nota-se a evolução da mensagem desse personagem.
'O Grande Barco'
lançou, não apenas um disco de “poemúsica”, mas um álbum
repleto de boas canções. Sids apresenta uma mistura homogênea de
repente, xote, reggae, ciranda e diversos ritmos brasileiros com
batidas eletrônicas e guitarra, flauta e voz.
Com isso, deixo a
palavra com o próprio personagem desta história, o próprio Sids.
Houve um longo hiato entre o primeiro álbum e este segundo... O que você andou fazendo
nesse tempo?
Fiz um segundo livro de
poesia, 'VOOS' (a ser lançado) e um livro infantil 'Lili e o Dragão' (também a ser lançado). Participei do livro-coletânea 'Fincapé' (2011) do 'Coletivo de Poetas' daqui de Brasília e do DVD/CD do 'DJ Tudo e sua Gente de Todo Lugar' ao vivo no auditório do Ibirapuera, São Paulo (2011) do amigo e parceiro Alfredo Bello em sampa. A
música 'Verdelinho' (do primeiro disco) foi remixada pelo DJ Tudo e
lançada no CD 'Garrafada' (2008). Tem uma poesia de minha autoria no
CD 'Sim One Sou' (2011), de Simone Sou, em russo e português. Também participei com
voz e poesia, em duas faixas, no cd 'Projeto Cru' com Simone Sou,
Alfredo Bello e Marcelo Monteiro em 2006 em São Paulo. Agora em
2013 minha poesia 'Tango 78', da época do 'Maya Desnuda', e que está no
primeiro livro, fez parte da dramaturgia do espetáculo 'Infinito
Vazio', da premiada 'Semente Cia de Teatro', do Gama. Fiz também um
Laboratório de Poéticas no Espaço 'Semente'...
Qual é o ponto de
partida de suas poesias?
Como podes conferir os
temas são variados, assim como as linguagens... Em alguns casos fico
intrigado com um verso, uma imagem, um acontecimento... em 'Tantinho
do mundo', por exemplo, o verso "o sertão é do tamanho do
mundo", de João Guimarães Rosa (martelou, no bom sentido, por
meses em minha cabeça e ser), e daí saiu que "o Gama é um
tantinho do mundo/ um risinho do fundo/ um chorinho profundo"...
"é o que me leva e trás a você"... "quem Gama mora
no Ama" (parafrase da famosa anônima "quem ama mora no
Gama)...
Em outros casos eu
brinco, como em 'Eu rio' que veio de uma poesia visual onde formo um
rio com os dois versos que se seguem) "eu rio para a existência/
eu rio para a experiência".... daí fui brincando, rindo,
seguindo... Já em 'Toque' entra, também, a sonoridade das palavras,
o sutil, o singelo com brincadeira também...
'Célula' veio das
pesquisas sobre célula tronco, sobre a possibilidade de seres
humanos serem criados em "máquinas"...
'Elas na feira' nasceu
da emoção transmitida pelas ceguinhas Maroca, Poroca e Indaiá...
Elas, as ceguinhas, são maravilhosas como as milhares de mulheres de
nosso Brasil (sugiro imagens de mulheres guerreiras na letra), como a
minha mãe (agradecido mãezinha!!!).
Os processos são
múltiplos.
Como foi o processo de
gravação deste álbum?
Foi simples. Optamos
por manter as bases/composições criadas a partir do Reason
(programa eletrônico de edição de áudio), daí foram aplicados
plugins e ajustes de timbres pelo Luiz Oliviéri, nosso produtor, e
as músicas foram crescendo, singelamente, encorpando. As gravações
foram feitas com poucos takes, praticamente diretas, e algumas
sugestões foram aplicadas durante o processo, como em 'Toque, onde
eu queria, sentia a necessidade, de que a música ficasse maior e
ficou. As participações especiais foram pontuais com os meus
amigos-irmãos Alfredo Bello e Marta Carvalho, em 'Elas na feira', e
do Luiz Oliviéri, em 'Descalço'.
O primeiro disco foi
feito como obra suplementar ao livro de poesias... Nesse segundo
trabalho, você acredita que a situação se inverteu? ...que hoje as
letras vêm em função da música...
Não. A diferença que
vejo deste segundo álbum para o primeiro é que participo mais
diretamente do processo musical, graças ao Reason.
No primeiro disco eu
encaixava mais as letras nas músicas ou falava para os músicos a
minha idéia musical que vinha a partir da letra, do seu ritmo, das
suas cores... em alguns casos a idéia era só de vozes.
Bom, o processo
criativo em si é bem parecido entre os dois discos, ou seja, não
existe um caminho definido. Por exemplo em 'Descalço' eu já tinha
as duas letras (e a idéia da "levada" delas), daí comecei
a brincar com o Reason e encaixei as letras e melodia na
base/composição, daí o Davi também brincou com o Reason e criou a
melodia da flauta, um synth e o baixo da parte do "paranoá".
Em 'Célula' o Davi chegou com a música pronta e eu fui brincando
com a letra, juntei duas idéias que estavam esperando a música. Já
em 'O capoeira' o Davi trouxe a primeira parte da música, com
influencia da música eletroacústica, e encaixei a letra com o jogo
de capoeira, mas, intrigado, achando que podia mais, eu acrescentei
bateria, percussão e outros elementos eletrônicos como guitarra...
Daí fui brincando com a letra e chamei o Chico Science e o João
Cabral de Melo Neto, em memória... Se reparares nela, na composição,
verás que damos um rolê por Recife e Olinda, em companhia mais que
poética, com o Chico e o João Cabral.
A música por vezes
chama a letra, mas a letra também chama música. Gosto disso.
Qual é sua posição
sobre esse assunto de livre compartilhamento? Acessibilidade ou
pirataria?
Disponibilizamos este
segundo álbum como o primeiro também... Acessibilidade!!!
Mas respeito os
artistas que querem ganhar o seu por meio do seu trabalho, o lance é
que esse processo da disponibilidade de bens é um caminho sem volta,
creio. Assim seja!
Pra completar, na
segunda metade dos anos oitenta vivenciei o "faça você mesmo"
e vejo essa disponibilidade toda como uma consequência disso, ou
seja, faça e deixe fazer, compartilhe, compartilhe-se. Eu Ovo!!!
2013 O Grande Barco
1. Toque
2. Eu rio
3. Descalço
4. Tantinho do mundo
5. Fênix
6. Célula
7. Elas na feira
8. O capoeira
9. Ciranda de ciranda
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