Luciana Oliveira é brasiliense e lançou um disco simples e gostoso de ouvir. O disco começa com a moderna ‘A ordem é samba’, com um arranjo intimista. Em seguida você tem a chance de ouvir ‘Danda Luanda’, que prepara uma cama com elementos africanos, jazz e scratches.
A partir daí você é levado numa viagem através do som da
Luciana. Novamente elementos africanos, muita poesia e samba-reggae pontuam o trabalho dessa jovem artista. Destaque especial para ‘O verde do mar de Angola’ do Alexandre do Natiruts, que ficou maravilhosa na voz da
Luciana. Ela também canta com a banda Natiruts, juntamente com o autor daquela canção.
Eu Ovo: Como surgiu sua paixão pela música? E como você começou?Luciana Oliveira: Aos 6 anos de idade eu compus minha primeira música. Acho que por ser muito tímida, usava a música como uma válvula de escape. Lembro de um caderninho de composições que escrevi aos 11 anos e até tinham umas coisas legais (risos).
Eu tenho alguns primos músicos e que também seguiram carreira musical, o Alexandre do ‘Natiruts’ e o Marcelo Mira, e sempre nos reuníamos nas festinhas de família pra tocar violão e cantar. Acho que foi a partir daí que comecei a me envolver mais com a música.
Na escola eu também cantava nessas rodinhas e aí surgiu o convite pra entrar numa banda de reggae e ska chamada ‘Mal de Família’. Eu fiquei na banda durante cinco anos , até que engravidei , dei uma paradinha e depois tava a fim de me dedicar a um trabalho solo, mais de MPB.
Formei uma banda e me apresentei em bares e casas noturnas de Brasília. Nesse mesmo período comecei a descobrir o universo da música afro-brasileira, me encantei e montei um espetáculo cênico musical chamado ‘Cântico Negro’. A partir daí eu fui me influenciando cada vez mais por esse universo e mais outros. Participei de vários discos de rap, gravei chorinhos e um disco em 2005 intitulado ‘Tesselas’, no qual fui convidada pelo compositor Douglas Umberto.
EO: Como foi o processo de seleção das faixas do seu disco? Esse é o primeiro disco que você gravou? De quem são as composições?
LO: O processo de seleção durou uns três anos. Foram vários encontros com o João Ferreira que produziu o disco, e com vários compositores. Algumas músicas eu busquei, fui na casa do compositor, ouvi, escolhi, outras me chegaram por acaso. ‘Tecnococo’ acho que é a mais antiga. O Nelson me mostrou há uns 5 anos atrás, e eu guardei. 'O verde do mar de Angola’, eu ouvi o Alexandre (Natiruts) cantando um dia na Van, quando voltávamos de um show e foi paixão a primeira vista. ‘Dez pras três’ o Wilson Bebel compôs e me ligou de madrugada pra dizer que tinha uma música que era a minha cara. No dia seguinte eu ouvi e adorei.
As minhas composições foram feitas especialmente para o disco. Eu mostrei pro João e ele me incentivou a gravá-las. Nesse período em que estávamos concebendo o disco, usamos os shows também para experimentar as músicas. Como eu queria explorar essas misturas do orgânico com o eletrônico, experimentamos muita coisa nos shows, nos ensaios, para encontrar a medida certa.
Eu considero esse o meu primeiro disco pelo fato de ser um trabalho que tem minha cara, acho que é uma síntese do que venho trabalhando há alguns anos. Mas antes desse disco eu gravei o ‘Tesselas’, que saiu com meu nome, mas foi um convite do compositor Douglas Umberto. Ele gostou da minha voz e me convidou para cantar as músicas dele em parceria com Luís Graciliano. Mas vejo o ‘Tesselas’ mais como um projeto, embora tenha me envolvido muito com o disco.
EO: Quem toca com você no disco? E nos shows?
LO: No disco teve participação de grandes músicos de Brasília e de outros lugares. O João tocou violão em todas as faixas. O Leander Mota tocou bateria e percussão em todas as faixas também. Teve o Bororó que é um baixista lendário, já tocou com todas as pérolas da MPB e enriqueceu muito o disco com a sua participação e o DJ A que ficou por conta de todos os scrathes, efeitos e programações do disco.
Além desses tem a participação do Ribah Nascimento na guitarra, Fernando César no violão de 7 cordas, Rafael dos Anjos no violão, Pedro Vasconcelos no cavaquinho, Fernando Machado na clarineta, Pablo Fagundes na gaita, Beto Pizzulin, Alexandre Herrera e André Mitsuoka nos metais, Ana Reis e Paulo Santos nos backings vocais, o próprio Alexandre que tocou o violão no ‘Verde do mar de Angola’ e Jair Dupret, cantor caboverdeano que dividiu os vocais do ‘Verde do mar’ comigo.
Nos shows participam o João Ferreira que também faz a direção musical do show, Anderson Santos no baixo, Marcos Moraes, no violão e guitarra solo, Leander Mota na bateria, George Lacerda na percussão, Ana Reis e Nãnan nos backing e DJ A nas pickups.
EO: Quais são suas influências? O que você ouve em casa?
LO: As minhas influências vem muito da música brasileira, africana, jamaicana e música negra estadunidense. Coisas como Clara Nunes, Clementina de Jesus, Gilberto Gil, Moacir Santos, Maria Betânia, Bob Marley, Femi Kuti, Oumou Sangaré, Erikah Badu, Chico Science, Orishas, Linton Kwesi Jhonson, Nei Lopes, Ali farka Touré, Bebel Gilberto, João Donato, Elza Soares, João Bosco, Jorge Benjor, música de terreiro e por aí vai. Ultimamente tenho ouvido Lura, NNeka, Fino Coletivo, Ayo, Mayra Andrade, Martinália etc.
EO: Como você vê a cena musical daqui de Brasília?
LO: Embora eu esteja viajando por vários lugares com o Natiruts, acho difícil comparar a cena daqui com a de outros lugares, por que essas coisas tem que ser vivenciadas no dia a dia pra sentir. Mas acho que a cena aqui está crescendo, tem muitos músicos e muitas bandas, mas ainda sinto falta de lugares que ofereçam boa estrutura e que valorizem de fato o artista local.
Sempre quando a gente faz show fora, as vezes você vai numa cidade do interior e lá tem uma casa de show super bacana, com boa estrutura e acho que aqui faltam esses espaços. Você tem a opção de teatro, de montar uma estrutura ao ar livre ou de bares muito pequenos. Acho que falta o meio termo disso.
Mas por outro lado Brasília tem esse clima de cidade de interior onde todo mundo se conhece e isso é muito bacana também. As bandas e os artistas estão com uma estrutura melhor. O surgimento de várias produtoras, muitas delas formadas pelos próprios artistas tem contribuído para isso. E acho que com isso e com o advento da internet a conexão com artistas e produtores de outros lugares está mais fortalecida. Mas por outro lado temos um mercado com muita oferta e poucas opções ainda.
EO: Quais são os planos para o futuro? Na sua carreira...
LO: Tenho planos de fazer mais alguns shows por aqui e sair de Brasília por um tempo. Aqui tem um mercado que é meio circular e se você quer se projetar tem que dar uma volta por aí. Além disso acho que como experiência de vida isso é enriquecedor. Tenho vontade de tocar com uma galera diferente, respirar outros ares. Acho importante!
EO: Você baixa discos pela internet?
LO: Sim. Mas ainda compro discos também. Tenho um apego com o encarte, com as informações técnicas, além do que acho que o cuidado com o disco que você compra é maior, embora considere os preços muito altos.
EO: Te incomoda ver seu disco para download?
LO: Acho que música tem que circular, tem que chegar nas pessoas e a internet contribuiu para essa democratização. Mas acho que deve se ter o cuidado de não banalizar. As vezes o excesso de informação torna as coisas muito superficiais.
As pessoas tem acesso a tanta coisa que não se aprofundam em nada. Mas não me incomodo em ver meu disco para download, embora acredite que isso é apenas uma parte da obra. Mas por outro lado permite que a minha música chegue em lugares que talvez eu nunca imaginasse. Como num passe de mágica!!!
2008 Luciana Oliveira 1. A ordem é samba
2. Danda Luanda
3. Ê menina
4. Dez para as três
5. Marujá
6. Rainha das águas
7. Tecnococo
8. Mariá sereia
9. O verde do mar de Angola
10. Pra quem se sabe
11. Mãe das flores
Abaixa aui no Eu Ovo